Com 400 mil imóveis ainda sem energia elétrica 72 horas após a tempestade que atingiu a Grande São Paulo, a tensão começou a subir na região. Por um lado, políticos de esquerda exigem apuração e cobram responsabilidades; por outro, a população começa a se mobilizar em atos nos bairros que ainda estão afetados. A resposta do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi enviar a Polícia Militar para reprimir as manifestações.
O deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT) denunciou que o “governador Tarcísio usa força policial para interromper manifestação legítima da população ao invés de cobrar a Enel e apoiar moradores”. O parlamentar se referia a manifestação que eclodiu nesta segunda-feira no Jardim São Luiz, na Zona Sul da capital.
De acordo com o portal Terra, foram registrados cinco protestos na Grande São Paulo por falta de luz. Nos atos, moradores fecharam ruas e avenidas e pediam o restabelecimento da energia. A Polícia Militar também interveio usando a força e disparando contra a população na manifestação ocorrida no bairro Casa Grande, em Diadema. Segundo o Terra, a Secretaria de Segurança Pública informou que “houve tumulto e a polícia precisou intervir com munições de menor potencial ofensivo”. Ainda de acordo com o portal, uma pessoa foi detida.
Em boletim divulgado nesta segunda-feira, às 15h, a Enel informou que 400 mil consumidores da Grande São Paulo, seguem sem energia elétrica. Destes, 280 mil estão na capital. Há também relatos de que 10 bairros estão sem água e 135 semáforos estavam sem funcionar na manhã desta segunda-feira (14).
Deputados cobram providências
O líder da federação PT/PCdoB/PV na Assembleia Legislativa, deputado estadual Paulo Fiorilo, acionou o Ministério Público para apurar as condutas do governador Tarcísio e do Secretário da Casa Civil do Estado de São Paulo, Arthur Lima, por improbidade administrativa por utilizar a estrutura pública para promover enaltecimento de suas ações.
A bancada da federação emitiu uma nota em que cobras as providências apontadas no relatório da CPI da Enel, concluído há dez meses. Mas os deputados também argumentam que as agências reguladoras estadual (Arsesp) e federal (Aneel) devam ser responsabilizadas pela situação catótica que atingiu a Região Metropolitana de São Paulo. Os deputados citam também a omissão do governador Tarcísio e do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB).
“O fato é que mesmo diante de eventos climáticos cada vez mais recorrentes, a ENEL não alterou seu planejamento ou cumpriu as recomendações sugeridas pelo Ministério de Minas e Energia e demais órgãos competentes”, afirma a nota.
A bancada aponta ainda as responsabilidades da prefeitura: “o caos da cidade também é reflexo do abandono municipal. Já se passaram mais de 50 horas da uma chuva forte que atingiu a cidade por minutos e ainda há um rescaldo de cidadãos afetados pela omissão e inoperância da prefeitura de São Paulo na zeladoria da cidade, diante de semáforos quebrados e lentidão na remoção das inúmeras árvores caídas, que agora afetam fiações e dificultam o restabelecimento da energia elétrica”.
Já em Brasília, o deputado federal Alencar Santana (PT) protocolou dois requerimentos para apurar as responsabilidades da Enel. Ele pede a criação de uma Comissão Externa da Câmara dos Deputados para acompanhar a situação em São Paulo. Também pediu a instalação de uma subcomissão especial sobre o mesmo assunto, no âmbito da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.
Seu colega de bancada, o deputado federal Carlos Zarattini (PT) pediu a realização de uma audiência pública na Comissão Minas Energia da Câmara.
Nenhuma falha e apagão de prefeito
Segundo o site InfoMoney, o prefeito Ricardo Nunes, em campanha pela sua reeleição, disse que desde sexta-feira há um total de 4 mil pessoas trabalhando nos cortes e remoção de árvores e limpeza das ruas. Para o prefeito: “a prefeitura é muito ativa em todo o processo. Não existe falha da prefeitura. Não existe absolutamente nenhuma falha”.
Já seu adversário, Guilherme Boulos (PSOL) vê exatamente o contrário: “o que estamos vivendo hoje na cidade de São Paulo, além do apagão da Enel, é um apagão de prefeito. O manejo arbóreo é responsabilidade da prefeitura, e ela não faz. Há um ano, alertamos sobre a necessidade de podas, e nada foi feito”.
Ministro dá prazo de três dias
O ministro de Minas e Energia concedeu entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira e disse que a Enel tem três dias para resolver os problemas de maior volume. “Ela tem que restabelecer nos próximos três dias a parte mais substancial a energia do povo de São Paulo”. O ministro comentou ainda que faltou planejamento à empresa e “beirou a burrice”, segundo a CNN.
O governo Lula abriu uma auditoria para investigar se houve falha da Aneel, a agência reguladora que deve fazer a fiscalização e controle da concessão da Enel. A diretoria da Aneel é toda formada por integrantes indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e têm mandatos fixos, portanto não podem ser substituídos por Lula. A prefeitura de São Paulo também será notificada pelo governo a prestar esclarecimentos.