domingo, 8/06/2025
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O silêncio e a política de morte de Tarcísio

Governador de São Paulo escolhe a esperta neutralidade política enquanto libera a violência policial
Tarcísio, PM mata estudante, Bolsonaro
Fotos: Agência SP; Reprodução; Fernando Frasão / Agência Brasil

Alguém ouviu o que disse o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre a trama golpista para matar o então presidente eleito Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Alexandre de Moraes?

Ninguém. Silêncio.

Sabe por que? Porque o governador deve pensar que matar é natural, a julgar pelo comportamento da Polícia Militar sob o seu comando. Primeiro atira, depois pergunta (se é que pergunta).

O caso do estudante de medicina Marco Aurélio Acosta, infelizmente, é apenas a continuidade de ações violentas da PM que resultaram em mortes. No início deste mês, um tiro, provavelmente disparado por um Polícia Militar, matou o menino Ryan, de 4 anos, quando brincava na rua perto de casa e também o adolescente Gregory, 17 anos, em Santos. A PM de Tarcísio mata em média um adolescente a cada nove dias.

A letalidade policial avança numa espiral de terror. Em 2022, as polícias paulistas (o que incluiu a civil e a militar) mataram 176 pessoas. No ano seguinte, o primeiro de Tarcísio à frente do governo, foram 247 (aumento de 40%). De janeiro a agosto de 2024 foram 441 mortes (aumento de 78%, somente em oito meses comparados com os 12 anteriores). Os dados foram levantados pelo Instituto Sou da Paz e publicados pela Agência Brasil.

Somente duas operações, a Escudo (28 de julho e 5 de setembro de 2023) e a Verão (18 de dezembro de 2023 e 1º de abril de 2024), realizadas na Baixada Santista resultaram na morte de 84 pessoas, informa o Brasil de Fato com dados divulgados pela própria Secretaria de Segurança Pública.

Nessa escalada de letalidade policial, é sintomático que o governo de Tarcísio tenha escolhido fragilizar o programa de câmeras corporais nos policiais militares. O edital de licitação para compra dos equipamentos, prevê que o dispositivo não precisa fazer gravações ininterruptas. No entanto, a Secretaria de Segurança Pública informou que o acionamento é obrigatório, mas se o policial não o fizer, as imagens da ação estarão para sempre perdidas.

Voltando à trama golpista e terrorista que chocou o país, vale lembrar que Lula, antes de ser presidente da República eleito três vezes, foi o deputado federal por São Paulo mais votado do país no pleito de 1986 com 651.753 mil votos. Geraldo Alckmin, o vice-presidente e também alvo dos golpistas, foi governador de São Paulo por 12 anos, além de ter sido vice-governador, deputado federal e estadual, prefeito e vereador de Pindamonhangaba. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Alexandre de Moraes, foi secretário nas pastas de Segurança Pública e de Justiça do estado de São Paulo.

Portanto, além da importância dos cargos que os três têm hoje no país, ocuparam posições de destaque no estado que Tarcísio governa. Não caberia uma declaração de repúdio ao plano golpista?

O colunista do Uol, Reinaldo Azevedo, destacou que Tarcísio prefere o silêncio. Politicamente, para ele é mais interessante se manter longe do embate público que acontece por conta da descoberta da trama e do indiciamento de Bolsonaro e seus subordinados. Sem defender os seus, Tarcísio não se mete na lama. E caso se manifestasse com críticas ao plano e seus arquitetos, seria atacado pela matilha bolsonarista que compõe o seu eleitorado.

Em silêncio, Tarcísio segue como se nada disso tivesse a ver com ele. Nem Bolsonaro, nem o golpe.

Mas vou além. Para Tarcísio é fácil se manter quieto num caso tão estrondoso. Para ele, matar não é uma exceção. Matar faz parte de sua política.


* O Radar Democrático publica artigos de opinião de autores convidados para estimular o debate.

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