Por Rogério Bezerra da Silva

Ilustração do metrô - Rogério Bezerra da Silva com aplicativoFoi o comentário “Nossa, que péssimo!” que ouvi logo ao entrar na estação do metrô do Rio de Janeiro, quando estive na cidade agora em dezembro de 2024 a trabalho.

Cheguei ao Rio por volta das 17h pelo Santos Dumont, aquele aeroporto que nos dá a impressão de que os aviões vão pousar no mar. O interessante desse aeroporto, distinto da maioria dos demais brasileiros, é que ele está localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, o que, portanto, não exige muito tempo de deslocamento para qualquer lugar em que se queira chegar na cidade.

Já na sala de desembarque, abri no celular o aplicativo para verificar o preço da corrida até Copacabana, onde eu ficaria hospedado. Setenta reais para percorrer cerca de 10 quilômetros. De imediato pensei: vou de metrô, é claro. Até mesmo porque, para quem anda de metrô em São Paulo, pelas linhas Vermelha, Verde e Azul (as mais antigas), reconhece que é a mais segura, rápida e barata opção de deslocamento.

Além de tudo, andar de metrô de São Paulo nos dá uma sensação prazerosa, pela limpeza das estações e trens, pela segurança que sentimos quando vemos os vários profissionais protegendo as estações, pelos trens sempre novos e bem cuidados, pelas estações sempre bem mantidas, escadas rolantes sempre seguras e funcionando bem, pontualidade dos trens, dentre tantas outras qualidades. E, também, porque quando adentramos as estações das linhas Vermelha, Verde e Azul temos a sensação de estarmos dentro de uma obra de arte.

Ainda no terminal de desembarque do Santos Dumont, me dirigi à máquina que gera um cartão que possibilita o embarque no VLT. Para pegar o metrô seria necessário pegar o VLT até a estação de metrô mais próxima, de onde poderia seguir até Copacabana. No aeroporto, essa máquina, idêntica àquelas que encontramos no metrô de São Paulo (que geram QR codes para quem quer pagar a passagem com cartão de débito), estava funcionando perfeitamente.

Peguei o VLT até a estação de metrô. Não fui o único a ter essa ideia. Um grupo de três jovens, que haviam desembarcado no mesmo voo que eu, também resolveu fazer o mesmo.

Logo ao entrar na estação do metrô, ouvi os jovens: “Nossa, que péssimo!”. Estavam vociferando a primeira impressão que tiveram da estação do metrô do Rio. E, não por menos. Logo ao entrar na estação é nítido o piso bem sujo por conta da fuligem escura impregnada no granito e que nunca se tentou remover; paredes de concreto que há anos não passam por nenhum tratamento e limpeza; lâmpadas queimadas; catracas com defeito.

Na estação do metrô tive que comprar o bilhete de embarque. Gastei mais de meia hora para conseguir comprar um bilhete. Das três máquinas de emissão de bilhetes, duas não estavam funcionando. A que estava funcionando, engoliu e não quis devolver o cartão da pessoa que estava à minha frente.

O mais desesperador é que não tinha nenhum funcionário na estação que soubesse dar alguma orientação. Um usuário do metrô me orientou como comprar bilhete do metrô pelo mesmo sistema do VLT. Finalmente, consegui comprar o bilhete e embarcar.

Em direção à plataforma, as escadas rolantes estavam com defeito. À espera do metrô, que não demorou tanto para chegar, comparando os trens com os de São Paulo, as diferenças são nítidas: vagões bastante malcuidados e barulhentos. Logo se imagina que os vagões mal passam por manutenção.

Chegando na estação de destino, percebi os mesmos problemas que observei quando embarquei: desde a estação malcuidada, máquinas de emissão de bilhetes quebradas e nenhum funcionário à vista.

Ando de metrô em São Paulo já faz muitos anos, especialmente pelas linhas Vermelha, Verde e Azul, que são as mais antigas do sistema. Desde que morei na Zona Leste da Capital no início dos anos 90. Lembro-me que, já naqueles anos, meus familiares e amigos diziam que gostavam bastante de andar no metrô de São Paulo, porque ele era seguro, sempre estava no horário, era confortável, confiável e limpo. Tudo isso mesmo tendo que enfrentar, muitas vezes, os horários de pico com trens lotados. Ainda hoje, o metrô de São Paulo nessas linhas continua despertando nos usuários os mesmos bons sentimentos.

Em São Paulo, ouso dizer que o cidadão considera o metrô como sendo parte de sua própria vida. Não há ninguém que, ao entrar numa estação do metrô de São Paulo, especialmente as mais antigas, não tenha a sensação de acolhimento, segurança e pertencimento. De certo modo, esse sentimento, de que o metrô pertence a cada um dos cidadãos que o utiliza, corresponde à verdade, pois o metrô é um bem público; construído e operado diariamente por uma empresa pública, portanto pertencente a cada cidadão.

Já o sistema de metrô do Rio é operado por uma empresa privada desde 1998. Ou seja, faz 26 anos que o metrô no Rio é privado. Essa deve ser a idade da sujeira impregnada nas estações e nos trens. Esse deve ser também o tempo que faz que o cidadão carioca vem sendo desrespeitado no seu direito por um transporte público de maior qualidade.

Rogério Bezerra da Silva, geógrafo, é editor Radar Democrático.

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* Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Radar Democrático.

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