
Para defender seu padrinho político Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos) fez uma lambança danada com a língua portuguesa. Afinal, só enrolando a língua pra defender o ex-presidente denunciado pela Procuradoria-Geral da República por organização criminosa, abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, dano qualificado com uso de violência e grave ameaça, deterioração de patrimônio tombado.
Mas o governador de São Paulo preferiu contradizer a consistente denúncia de 272 páginas apresentada ontem (18) ao Supremo Tribuna Federal (STF) com 239 letras confusas:
“Jair Bolsonaro é a principal liderança política do Brasil. Este é um fato. Jair Bolsonaro jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do estado democrático de direito. Este é outro fato. Estamos juntos, presidente.”
Como assim? Vamos por partes:
“Jair Bolsonaro é a principal liderança política do Brasil. Este é um fato”.
Alguém da assessoria do governador precisa explicar pra ele. Isso não é um fato. Essa é uma opinião. Não existem fatos concretos e objetivos que indiquem a maior liderança do Brasil. Assim, como dizer que Lula, Tiririca ou o próprio Tarcísio são a “maior liderança” é uma opinião. Mas Tarcísio poderia dizer que Lula é o político que recebeu o maior número de votos na história do Brasil: 60.345.999 de votos em 2022. E o segundo? Lula também, com 58.295.042 de votos em 2006. Bom, então ele podeira escolher como critério de “maioridade” o número de seguidores no Instagram. Bom, aí o “maior” seria o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Esses seriam fatos. Será que o governador entendeu agora?
“Jair Bolsonaro jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do estado democrático de direito. Este é outro fato.”
Aqui já não é fato nem é opinião, governador. Isto se chama engodo mesmo. Ou “engano, cilada, embuste, armadilha, manobra, trapaça, ardil, farsa, mentira, esparrela, embrulho, intrujice, tramoia, engabelação, engabelo, mutreta, enrolação, tapeação, conversa, onda, cantilena”. Fique à vontade para substituir a palavra pela que mais gostar.
Mas por que engodo? Ora, em 7 de setembro de 2021 Bolsonaro fez discursos públicos atacando o sistema eleitoral, as urnas eletrônicas, o Supremo Tribunal Federal. Escreveu o procurador-geral Paulo Gonet em sua denúncia:
“Foi nesse cenário que JAIR BOLSONARO, evidenciando seu receio de derrota nas urnas, apresentou de forma explícita a mensagem autoritária de permanência no poder: ‘Só saio preso, morto ou com vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso!’”.
Há no relatório (e até no Youtube) várias outras falas de Bolsonaro que evidenciam sua intenção de dar o golpe. Talvez Tarcísio tenha esquecido essas falas e não teve tempo de ler o relatório de denúncia, nem de dar um google. Ou talvez Tarcísio queira apenas enganar e manter cativo seu eleitorado. Tô em dúvida…
Estamos juntos, presidente.
Aqui fiquei encafifado: Tarcísio disse que estamos juntos porque esteve com Bolsonaro na trama golpista, inclusive o visitou no dia da reunião da minuta do golpe? Ou será que é porque Tarcísio espera a benção de Bolsonaro (inelegível e possivelmente preso até o dia da eleição em 2026) para ser candidato à presidência e tomar o lugar dele como maior liderança da direita no Brasil?
Quem sabe na próxima postagem o governador se explique melhor.
* O Radar Democrático publica artigos de opinião de autores convidados para estimular o debate.