Por Rogério Bezerra da Silva e Fabio Alves
Com a chegada do outono e a queda nas temperaturas, os casos de doenças respiratórias voltaram a crescer significativamente em diversas regiões do Brasil. A redução da umidade do ar, a maior permanência em ambientes fechados e a circulação de vírus como influenza e Covid-19 tornam esse período ainda mais crítico.
A edição do Boletim InfoGripe da Fiocruz, publicada em 19 de abril de 2025, aponta um aumento expressivo de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) em diversos estados do país. Ao todo, 15 das 27 unidades federativas apresentam incidência em nível de alerta, risco ou alto risco. São elas: Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo.
No Estado de São Paulo, o Boletim Epidemiológico – Síndromes Gripais da Semana Epidemiológica 14/2025 informa que foram notificados 10.150 casos hospitalizados de SRAG, com 1.013 óbitos (cerca de 10%). Crianças menores de 1 ano foram as mais acometidas (21% dos casos), enquanto adultos entre 60 e 79 anos representaram 42% dos óbitos, sendo que 71% dessas mortes estavam associadas a comorbidades.
Em relação ao mesmo período de 2024, houve um aumento de aproximadamente 18% nos casos hospitalizados de SRAG em São Paulo, o que reforça a preocupação das autoridades sanitárias.
Além disso, foram registrados 148 surtos institucionais de Síndromes Gripais (SG), somando 1.123 casos — média de 8 por surto. As escolas responderam por 64% dos surtos, mas as instituições de longa permanência para idosos concentraram o maior número de casos (55%).
A Secretaria Estadual de Saúde já alerta para a alta taxa de ocupação em unidades de terapia intensiva (UTIs) pediátricas e geriátricas, o que pode comprometer o atendimento de casos graves nos próximos meses.
O cenário é agravado por fatores ambientais como a baixa umidade e a ventilação insuficiente de ambientes, que favorecem a disseminação de agentes infecciosos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças respiratórias crônicas devem se tornar a terceira principal causa de mortalidade global na próxima década — e, no Brasil, essa marca pode ser alcançada ainda antes.
Frente a esse cenário, especialistas reforçam a importância da prevenção, especialmente entre os grupos mais vulneráveis.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda:
- higienização nasal: limpar as narinas com soro fisiológico ao menos duas vezes ao dia, especialmente em bebês;
- evitar aglomerações e ambientes fechados: reduzir a exposição das crianças a locais com grande circulação de pessoas durante surtos;
- manter a vacinação em dia: garantir vacinas atualizadas, como a da gripe e Covid-19;
- buscar atendimento médico: em casos de febre persistente, tosse forte ou dificuldade para respirar.
A população idosa e adultos com doenças crônicas também devem adotar cuidados especiais:
- uso de máscara em locais fechados ou com grande circulação;
- hidratação frequente e cuidados com a qualidade do ar em casa (como uso de umidificadores);
- atualização do esquema vacinal, especialmente para influenza, pneumococo e Covid-19;
- atenção a sintomas e procura imediata por atendimento ao menor sinal de agravamento.
Apesar da gravidade do cenário, a resposta governamental ainda enfrenta entraves. Embora o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tenha sancionado a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025 com foco em saúde, educação e segurança, o projeto encaminhado à Assembleia Legislativa excluiu 37 metas, muitas delas ligadas à ampliação da cobertura vacinal e à capacitação de profissionais do SUS. A previsão de R$ 36,4 bilhões para a saúde, embora robusta, está majoritariamente voltada à construção de hospitais e fortalecimento da Tabela SUS Paulista, deixando lacunas importantes em ações preventivas e estruturais.
Os sanitaristas e epidemiologistas apontam a necessidade urgente de ações como campanhas educativas sobre higiene respiratória, distribuição gratuita de máscaras e soro fisiológico, vacinação itinerante em bairros de maior vulnerabilidade e reabertura de leitos de retaguarda para pacientes respiratórios.
Fiquem atentos: a prevenção está em nossas mãos. Pais, cuidadores e toda a comunidade devem seguir as recomendações médicas e adotar práticas cotidianas de cuidado. Evitar a propagação das síndromes respiratórias é um compromisso coletivo com a saúde de todos.

Fabio Alves é médico sanitarista e professor da Unicamp.
* O Radar Democrático publica artigos de opinião de autores convidados para estimular o debate.

