
Nos dias 24 e 25 de setembro, o auditório da ADunicamp, em Campinas, recebe o I Seminário “O Negacionismo Científico e os Ataques à Pesquisa em São Paulo”, em parceria com o Radar Democrático. O encontro reunirá pesquisadores, docentes, jornalistas, parlamentares e representantes de entidades acadêmicas e sindicais em torno de um tema cada vez mais urgente: a defesa da ciência pública diante de cortes orçamentários, precarização das carreiras científicas e ameaças à autonomia universitária.
O debate torna-se ainda mais urgente diante de um conjunto de medidas e declarações do governo estadual que, segundo pesquisadores e entidades científicas, têm agravado a crise no sistema paulista de ciência e tecnologia.
Entre 2024 e 2025, a gestão do governador Tarcísio de Freitas foi alvo de críticas e denúncias por iniciativas que colocariam em risco a integridade de institutos centenários. Essa ofensiva incluiu tentativas de alienação de patrimônio público dedicado à pesquisa, como a proposta de venda de aproximadamente 35 áreas científicas — entre elas terrenos estratégicos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), destacando-se a histórica Fazenda Santa Elisa, onde está preservado um banco de germoplasma de café fundamental para a agricultura paulista.
No campo legislativo, a tramitação do Projeto de Lei Complementar (PLC) 9/2025 gerou forte apreensão na comunidade científica. O texto prevê mudanças na carreira de pesquisador e no Regime de Tempo Integral (RTI), o que pode precarizar vínculos, fragilizar a estabilidade institucional e reduzir salários dos profissionais que atuam nos institutos públicos de pesquisa.
Outro ponto crítico foi a proposta de desvinculação de parte do orçamento da Fapesp. A medida poderia retirar até 30% dos recursos da principal agência de fomento à pesquisa do estado — uma perda estimada em cerca de R$ 600 milhões, com impacto direto sobre milhares de bolsas de iniciação científica e projetos acadêmicos.
Paralelamente, avançam pautas de caráter negacionista que colocam em xeque tanto a extensão universitária quanto a própria ideia de universidade pública, gratuita e democrática. Entre elas, declarações do governador sobre a revisão do modelo de financiamento e até a possibilidade de cobrança de mensalidades nas universidades estaduais. Some-se a isso ameaças de ingerência política nos orçamentos e na gestão autônoma de USP, Unesp e Unicamp, além de discursos que rotulam universidades e institutos como “aparelhos ideológicos”, sem respaldo em evidências.
Esse conjunto de medidas e posicionamentos — interpretados por parte significativa da comunidade científica como tentativas de enfraquecer a autonomia universitária e aproximar a gestão estadual de posturas negacionistas — tem mobilizado uma ampla reação. Pesquisadores, sindicatos e parlamentares articulam resistências em frentes técnicas, jurídicas e políticas para proteger o patrimônio científico construído ao longo de décadas em São Paulo.
Debate qualificado e diversidade de vozes
A programação contará com cinco mesas de discussão, além da abertura, da plenária de encerramento e de um momento cultural com exposição e apresentação musical de Paulo Freire. Estarão em pauta questões como:
- O papel das universidades e institutos públicos no desenvolvimento social, econômico e ambiental;
- As ameaças visíveis e invisíveis à autonomia universitária;
- O papel da comunicação no enfrentamento ao negacionismo científico;
- Os impactos do desmonte dos institutos de pesquisa em São Paulo;
- A luta política no parlamento pela valorização da ciência pública;
- Perspectivas para o futuro da ciência e tecnologia no estado.
Entre os nomes confirmados estão Silvia Gatti (ADunicamp), Helena Dutra Lutgens (APqC), Ricardo Costa Rodrigues de Camargo (SINPAF Campinas-Jaguariúna), Antônio Luís de Andrade (ADUNESP), Márcio Moretto Ribeiro (ADUSP), Maria Maeno (Fundacentro), Marcio Wagner (UFPA), José Luis Pio Romera (STU) e Frederico Arzolla (CPRTI), além de parlamentares como Donato (PT) e Luciene Cavalcante (PSOL). Também participam jornalistas e comunicadores como Paulo Salvador (Rede TVT), Claudia Santiago (Núcleo Piratininga de Comunicação), Adrielen Alves (EBC) e os integrantes do Radar Democrático, Rogério Bezerra da Silva, Wanderley Garcia e Mário Camargo.
O professor de direito da USP Jorge Luis Souto Maior e o docente da Unicamp Renato Dagnino completam a lista de debatedores, que evidencia a diversidade de perspectivas acadêmicas, sindicais e políticas reunidas no seminário.
Organização coletiva
A iniciativa é fruto de uma parceria entre ADunicamp, Radar Democrático, APqC – Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo e Sinpaf Campinas-Jaguariúna.
Mais do que um espaço de diagnóstico, o seminário pretende ser um ponto de convergência de experiências e estratégias para a defesa da ciência pública em São Paulo e no Brasil.
Serviço
24 e 25 de setembro
Auditório da ADunicamp – Campinas/SP
Evento presencial