Na véspera do início do julgamento de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos) deixou de lado suas funções de governador de São Paulo para se dedicar às articulações em Brasília pela anistia ao ex-presidente. A movimentação intensa desta segunda-feira, que incluiu recados ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e reunião com o presidente de seu partido, Marcos Pereira (Republicanos-SP), demonstra que a prioridade de Tarcísio é conseguir a benção para ser candidato à Presidência em 2026.
E demonstra também que Tarcísio já considera Bolsonaro condenado.
As conversas com líderes do Centrão também compõem essa estratégia, buscando apoio para a aprovação do projeto de lei de anistia no Congresso. O governador, apadrinhado de Bolsonaro, busca claramente amenizar a tensão com o ex-presidente e seu filho, Eduardo, que tem demonstrado publicamente insatisfação com a atuação de Tarcísio.
Os movimentos de Tarcísio dão razão ao presidente Lula, que disse na semana passada: “Ele não é nada sem Bolsonaro, e sabe disso”, e à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann que nas redes sociais chamou o governador de “fantoche”.
Articulações e Declarações
No fim de semana, Tarcísio declarou explicitamente sua intenção de apoiar a anistia, reforçando a imagem de lealdade a Bolsonaro e mostrando uma banana para os 61% de brasileiros que, segundo o Datafolha, rejeitam candidatos que prometam o perdão ao inelegível.
Tarcísio solicitou pessoalmente o texto da proposta de anistia e se reuniu com figuras importantes do Congresso. A estratégia do governador(?) é clara: garantir o apoio de Bolsonaro e de seu eleitorado, e com isso pavimentar suas ambições presidenciais em 2026.
O preço para conseguir viabilizar sua candidatura com a benção de Bolsonaro pode ser bem caro: a alta rejeição ao ex-presidente pode contaminar a imagem do governador, prejudicando suas chances de sucesso em uma eventual candidatura presidencial. A articulação em torno da anistia, portanto, é uma aposta de alto risco, que pode trazer mais prejuízos do que benefícios à imagem e às ambições políticas de Tarcísio.
Riscos Políticos
O colunista Ricardo Noblat nota que a promessa de conceder um indulto a Bolsonaro como seu “primeiro ato” caso seja eleito presidente demonstra falta de cautela política. Essa declaração antecipada pressupõe a culpa de Bolsonaro antes mesmo do julgamento, o que pode ser interpretado como um ataque à Justiça e uma postura de desrespeito ao processo legal. Além disso, a associação com Eduardo Bolsonaro e sua agenda política, próxima ao conservadorismo mais radical, pode afastar eleitores moderados que ainda acreditam que Tarcísio é um bolsonarista que come com garfo e faca.
Divisões Internas
Outro risco significativo para Tarcísio é a resistência interna à sua estratégia. Reportagem da Carta Capital indica que o próprio Eduardo Bolsonaro rejeita a candidatura do inquilino do Palácio dos Bandeirantes, considerando que a base bolsonarista espera alguém mais virulento que ele para a sucessão política.
Enfim, para conseguir apoio de setores mais moderados, Tarcísio precisaria se descolar de Bolsonaro. Mas se fizer isso, perde muitos votos e talvez até a chance de se candidatar. Por isso preferiu partir para a tropa de choque do ex-presidente. E deve, como fantoche fiel, afundar com ele a partir de amanhã.
