Sem respostas da Seduc-SP sobre a continuidade das turmas, pais e alunos da Escola Bispo, em Jundiaí, temem que o Ensino Médio seja extinto em 2026 e cobram diálogo com o governo estadual.
Por Radar Democrático
O futuro da Escola Estadual Bispo Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, localizada em Jundiaí (SP), voltou a provocar preocupação entre famílias, estudantes e servidores. Às vésperas de completar 80 anos, a comunidade escolar teme que o Ensino Médio seja extinto já em 2026, diante da ausência de diálogo e da falta de respostas da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) sobre a continuidade das turmas.
Nos últimos meses, pais e responsáveis relatam que têm buscado informações oficiais sobre a abertura da 1ª série do Ensino Médio para o próximo ano, mas nada foi confirmado — nem negado. O silêncio do governo acendeu o alerta.
“É desesperador. Estão tirando o futuro dos nossos filhos sem sequer conversar com a gente”, afirma uma mãe de aluno do 9º ano, temendo que seu filho seja forçado a migrar para uma escola distante e possivelmente em turno incompatível com o trabalho.
Ela lembra que a legislação sobre a organização da rede deveria garantir a permanência dos estudantes na mesma escola:
“Contrariando o que é o costume e o que está definido na legislação pertinente — como o §1º do Art. 1º, o inciso I do Art. 4º e a alínea ‘a’ do inciso III do Art. 4º da Resolução SEDUC nº 115, de 2025 — a continuidade dos estudos dos alunos do atual 9º ano está sendo ameaçada pela falta de definição da Diretoria de Ensino. Até agora, nenhuma turma de 1ª série do Ensino Médio foi anunciada para 2026.”
A ausência de posicionamento oficial reforça o temor de que o Ensino Médio esteja prestes a ser descontinuado.
Escola histórica e essencial para alunos trabalhadores
Fundado em 1946, o Bispo sempre ofereceu Ensino Médio — parte essencial de sua identidade. Após a pandemia, a escola viveu um processo de reconstrução pedagógica, elevando seus índices educacionais e ampliando a chegada de estudantes com perfis diversos, como:
- alunos trabalhadores,
- atletas,
- jovens das artes,
- estudantes do ensino técnico,
- aprendizes do Senai,
- e adolescentes que dependem do período da manhã para conciliar estudo e trabalho.
Com a adesão de quase todas as escolas próximas ao Programa de Ensino Integral (PEI), o Bispo tornou-se uma das últimas opções de Ensino Médio em tempo parcial na região central de Jundiaí.
Mas, apesar da importância social, a comunidade vive sob instabilidade há uma década:
- em 2015, a escola quase foi fechada durante a tentativa de reorganização estadual;
- entre 2020 e 2025, enfrentou quatro investidas para impor o modelo de escola de tempo integral — sempre rejeitado pela comunidade por prejudicar alunos trabalhadores.
Agora, o risco é ainda maior: sem a 1ª série do Ensino Médio documentada para 2026, a escola pode entrar em um processo de esvaziamento, abrindo caminho para a extinção completa.
“Não é só uma escola. É nossa história e nossa rede de apoio”
Em manifesto enviado às autoridades, famílias, servidores, estudantes e ex-alunos denunciam que as mudanças vêm sendo discutidas de forma “discreta e sem diálogo”, repetindo um padrão que se arrasta desde 2015.
“Cada nova ameaça traz apreensão, como se a comunidade estivesse sempre se defendendo de um novo ataque. Precisamos de apoio para garantir o Ensino Médio e o projeto pedagógico que está dando certo.”, diz mãe de aluno.
A mãe relata que se sente tratada como se estivesse “sofrendo bullying institucional”, sempre precisando reagir a decisões repentinas.
Um temor que ecoa o cenário estadual
O receio das famílias do Bispo não acontece no vácuo. Entre 2023 e 2025, a rede estadual paulista passou por uma expressiva redução de turmas, especialmente no Ensino Médio e no noturno. Houve:
- mais de 300 turmas fechadas,
- cerca de 150 turmas noturnas e de EJA encerradas,
- forte diminuição da oferta para alunos trabalhadores em todo o estado.
Sem transparência e sem planos claros divulgados pela Seduc-SP, comunidades escolares têm vivido um clima crescente de incerteza.
Em Jundiaí, este medo agora tem nome e endereço: a Escola Bispo. E a comunidade promete lutar para que seus 80 anos de história não sejam apagados pela falta de diálogo.
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