Os Correios, empresa pública de grande valor social e histórico para o Brasil, enfrentam uma grave crise financeira, com déficits em 2023, 2024 e que em 2025 pode chegar a R$ 10 bilhões. A situação, que surpreendeu muitos brasileiros, já era denunciada há anos pelos trabalhadores. Em entrevista ao Podcast Radar Democrático, Elias Diviza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo e Sorocaba (Sintect-SP), apontou o aparelhamento político, a falta de investimento e o desmonte gradual como as principais causas do declínio da empresa. Por conta da situação da empresa, que afeta diretamente os trabalhadores, a categoria aprovou um indicativo de greve para o dia 16 de dezembro deste ano e uma mobilização nacional nesta semana para cobrar o governo.
A crise dos Correios não é recente. Segundo Elias Diviza, as denúncias sobre a dilapidação da empresa vêm desde 2011, atravessando diferentes governos.
“Nós já vínhamos denunciando Há um bom tempo E já vínhamos fazendo essas denúncias Para os próprios governos Que passaram. Eu não estou dizendo que foi só o Bolsonaro, não! Isso vem desde 2011, já vem acontecendo essa dilapidação dentro dos Correios.”
A falta de investimento e de contratação de novos funcionários resultou em uma força de trabalho envelhecida. “O último concurso foi em 2011. Então hoje eu tenho uma categoria envelhecida, que o mais jovem chega com 40 anos de idade. Eu tenho hoje carteiros de 70 anos nas ruas, entendeu?”, relatou Diviza, expressando a preocupação com o futuro dos Correios e dos trabalhadores: “E se essa empresa quebra amanhã?”.
Aparelhamento Político e Disparidade Salarial
Um dos pontos cruciais levantados pelos trabalhadores é o aparelhamento político e a burocracia excessiva. Diviza denuncia a indicação de pessoas para cargos estratégicos sem a devida qualificação, muitas vezes com altos salários.
“sou carteiro motorizado, então ainda recebo uma função, Eu chego a R$ 5.500 Brutos, Tem o desconto, Então eu chego a R$ 4.500, por aí. Aí você pega o cara menor, eu vejo carteiro que recebe R$ 1.800. e lá em Brasília, O prédio de Brasília em si, ele é 40% da folha de pagamento dos Correiros”, afirma Diviza
O sindicalista alerta que os Correios têm mais de 80 mil funcionários e que no prédio de Brasília trabalham cerca de 2,5 mil funcionários, boa parte com altos salários, consumindo boa parte dos recursos da empresa. Essa estrutura inflada e a falta de “inteligência administrativa” são apontadas como causas da má gestão. Além dos erros de gestão, ele alega os interesses políticos de integrantes de diversos partidos dentro dos Correios. E que além disso, há contratos com prestadores de serviços altamente prejudiciais à empresa.

Críticas a Governos Anteriores e à Gestão Atual
Os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro foram duramente criticados por, segundo Diviza, levarem ao sucateamento dos Correios para a privatização.
“Temer e Bolsonaro, o que eles fizeram com o correio? Nada. Ao contrário, eles acabaram também, retirando o restinho que tinha. E logicamente eles queriam repassar os correios para as empresas privadas.”
A gestão atual do governo Lula também não escapou das críticas. “O governo Lula não teve a capacidade de colocar pessoas com a visão para fazer isso aqui dar lucro”, disse o sindicalista. Ele lembrou que em 2014 o governo Dilma retirou R$ 6 bilhões em lucros dos Correios, cuja devolução agora é uma reivindicação dos trabalhadores.
Potencial inexplorado e papel social
Apesar da crise, os trabalhadores defendem o potencial lucrativo e o papel social dos Correios. “Essa empresa aqui é uma mina de dinheiro”, afirmou Diviza, citando o crescimento de gigantes do e-commerce que dependem da infraestrutura logística. Ele lembrou que “na década de 80 um dos melhores correios do mundo era do Brasil, nós saímos daqui para fora para ensinar.”
Os Correios foram pioneiros na criação do marketplace no Brasil e possuem 15 patentes logísticas que poderiam ser comercializadas, mas estão paradas. Além disso, a empresa desempenha um papel social insubstituível, especialmente em regiões remotas e em momentos de calamidade, como nas enchentes em Minas Gerais e no Sul do país. “Esse modelo que os Correios têm acho que ele ainda funciona hoje em dia por toda essa concorrência, essa segmentação de mercado, acho que ainda cabe uma empresa estatal desse tamanho para cobrir todos esses rincões”, defendeu o sindicalista.
Mobilização e a greve como último recurso
Diante do cenário, os trabalhadores dos Correios aprovaram um indicativo de greve para 16 de dezembro e organizam uma caravana a Brasília para cobrar o governo no próximo dia 10, quarta-feira. A principal reivindicação é a reedição do último acordo coletivo de trabalho, o que, segundo o representante sindical, já é um “corte na própria carne” e não um avanço.
“estamos cortando a própria carne. Pedimos o que? A reedição do último acordo. Olha que loucura. A reedição. Se você olhar, não é avanço. Nós estamos tentando fazer o que? A nossa parte. Reeditar o acordo e manter os direitos.”
A greve da categoria é vista como a “última arma”, um recurso doloroso que traz “desgaste” e “risco” para os trabalhadores, que já enfrentaram demissões em massa no passado. “Se eu puder vencer uma luta, se eu puder vencer uma guerra, negociando, eu faço isso”, disse Diviza.


