Do Portal Porque Campinas

Durante evento com empresários na Arko Conference 2025, promovido pela Arko Advice e Galapagos Capital, na última sexta-feira (28/03), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se posicionou contrário o projeto do governo federal que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Segundo ele, a medida, ao priorizar a tributação do capital e aliviar os impostos para a base trabalhadora, seria um “contrato com o fracasso”, que desincentivaria investimentos e prejudicaria a população.
Segundo levantamento solicitado pelo Porque Campinas, pelo menos 78% dos trabalhadores com carteira assinada em Campinas devem se beneficiar dessa proposta.
A declaração, no entanto, contraria dados econômicos e estudos que apontam para a justiça tributária e ao estímulo ao consumo interno como efeitos da medida.
Opinião de Tarcísio contraria estudo do Dieese
A fala revela uma visão neoliberal que contradiz não apenas o objetivo social do projeto, mas também estudos técnicos e estatísticos. Segundo análise do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a medida proposta pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) resultaria em um acréscimo médio de mais de R$ 4 mil ao ano na renda de trabalhadores da base da pirâmide, além de beneficiar diretamente 9,6 milhões de brasileiros. O projeto de lei enviado ao Congresso (PL 1.087/2025) amplia a faixa de isenção para pessoas com renda de até R$ 5 mil e prevê descontos para quem recebe até R$ 7 mil mensais, com compensação fiscal pela taxação de rendas superiores a R$ 600 mil por ano.
De acordo com a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), a correção da tabela do IRPF, se aplicada de forma integral, aumentaria o número de isentos de 17,3 milhões para mais de 30 milhões de brasileiros. O estudo revela ainda que a tabela atual está fortemente defasada, penalizando justamente aqueles que recebem menos. O novo modelo ampliaria o limite de isenção para R$ 5.211,51 e reduziria a carga tributária sobre quem mais consome, estimulando a economia real.
Ataques a programas sociais
Enquanto critica o alívio tributário para os mais pobres, Tarcísio também atacou a ampliação de programas sociais como o BPC e o Bolsa Família, alegando que essas políticas não oferecem uma “porta de saída” para os beneficiários. A fala vai na contramão de propostas que buscam enfrentar a desigualdade social no país, como ressaltou a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que em nota defendeu a taxação das grandes fortunas e a contenção de benefícios fiscais bilionários que drenam os cofres públicos sem gerar contrapartida social.
Mas a contradição mais explícita do governador veio quando, no mesmo evento, ele elogiou abertamente a política econômica do presidente argentino Javier Milei, classificada por ele como “corajosa”, mesmo diante de números alarmantes. Segundo dados oficiais do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) da Argentina, o país registrou uma queda de 1,7% em seu PIB no último período, com mais de 5 milhões de pessoas entrando na linha da pobreza apenas nos seis primeiros meses do governo Milei. A indigência também explodiu: 3 milhões de argentinos não têm o mínimo necessário para se alimentar. Trata-se do maior aumento da pobreza no país em 20 anos.
Milei ainda solicitou um empréstimo de US$ 20 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI), mesmo após cortar aposentadorias e investimentos sociais — medidas que, longe de promover crescimento, agravaram a crise social e econômica argentina.
Com informações da BBC