
A Câmara de Jundiaí foi palco de um grito coletivo em defesa da ciência pública brasileira na noite da última segunda-feira (19). A audiência pública “Repúdio à privatização das fazendas do IAC”, organizada pelo vereador Henrique (Movimento Cardume, do PSOL), reuniu lideranças científicas, movimentos sociais, parlamentares e ambientalistas contra a política de desmonte promovida pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O evento, que lotou o plenário, teve como principal objetivo alertar a população sobre as ameaças às fazendas experimentais do Instituto Agronômico (IAC), que correm riscos de serem vendidas pelo governo estadual. Em resumo, os participantes destacaram que defender o IAC é defender o alimento que chega à mesa, a água que sai da torneira e o futuro sustentável das próximas gerações.
Entre os participantes estavam nomes de peso da ciência e da política paulista: Helena Dutra Lutgens, presidenta da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC); Hamilton Ramos, diretor do Centro de Engenharia e Automação do IAC em Jundiaí; Juliana Oliveira, do Coletivo Japan; Guilherme Cortez, deputado estadual (PSOL); e Jorge Bellix, presidente da Associação Mata Ciliar.
O que o IAC já fez por nós
O Instituto Agronômico é uma das instituições mais antigas e respeitadas da ciência brasileira. Suas pesquisas impactam diretamente o dia a dia de milhões de brasileiros. Veja alguns exemplos:
- 90% do café arábica produzido no Brasil utiliza cultivares desenvolvidos pelo IAC, resistentes à seca e pragas.
- Criou o sistema de mudas pré-brotadas de cana-de-açúcar, que revolucionou o cultivo, tornando-o mais eficiente e sustentável.
- Desenvolveu o Infoseca, sistema de monitoramento das secas, essencial para decisões estratégicas na agricultura.
- Inovou com nanotecnologia pós-colheita, prolongando a vida útil de frutas e combatendo o desperdício de alimentos.
Em Jundiaí, o IAC é referência em sustentabilidade
- Pesquisas sobre mudanças climáticas nas bacias PCJ (que abastecem mais de 5 milhões de pessoas) deram origem a um aplicativo para gestão hídrica inteligente.
- Desenvolveu seringueiras de crescimento acelerado, que produzem látex em apenas cinco anos, otimizando a produção de borracha no Brasil.
Governo Tarcísio: o desmonte científico em SP
Enquanto cientistas dedicam décadas ao desenvolvimento do país, o governo do Estado avança com uma agenda de desmonte. Entenda os principais ataques:
– Venda de fazendas de pesquisa
O governo avalia vender áreas de 25 unidades de pesquisa em municípios estratégicos, como Jundiaí, Campinas e Piracicaba.
– PLC 9/2025: fim da dedicação integral à ciência
Projeto de lei desestrutura a carreira científica, extingue dedicação exclusiva e altera a estrutura salarial, ameaçando a permanência de pesquisadores.
– Corte de até R$ 600 milhões na FAPESP
Na nova LDO o governador tentou reduzir drasticamente o orçamento da principal agência de fomento à pesquisa científica do Brasil, a FAPESP.
– Ataque às universidades públicas
O governo tentou incluir instituições não-estaduais no repasse de ICMS, o que reduziria os recursos de USP, Unesp e Unicamp. Após pressão, recuou. Mas o estrago já está em curso: a PEC 9/2023 reduziu em R$ 11,3 bilhões os investimentos em educação pública.