Por Rogério Bezerra da Silva
Creio que isso já tenha se passado com quase todas as crianças. Quando bem pequeninos, não sei ao certo o porquê, nos dá uma vontade tremenda de querer caminhar sobre muros que, para nossas alturas, sempre são muito altos.
E o muro, muitas vezes, é apenas a mureta dos jardins ou floreiras que ficam magistralmente enfileiradas em nossas longas travessias pelas calçadas e parques da cidade.
Pois bem, pequeninos queremos ter nossa vontade satisfeita. Mas, sendo os muros altos e estreitos temos medo de nos aventurar sobre eles. O desejo se torna ainda maior quando os irmãos mais velhos ou amigos nos olham lá de cima, imponentes, e nos dizem com um ar desafiador: sobe também!
O muro é sempre mais imponente, e nos diz: não! Medo de cair, machucar, quebrar algo, de doer.
Eis que, quando nos damos conta, ao lado enxergamos nossa mãe, pai ou aqueles que nos dão proteção. Eles, depois de tanto insistirmos, aceitam pegar em nossas mãos e nos conduzir e nos sustentar sobre o muro.
O que queremos mesmo é caminhar sobre o muro sozinhos! Sem apoio! E, ao mesmo tempo, naquele momento, o que mais queremos é aquele apoio, que nos dá a segurança para caminhar lá no alto e atravessar aquele longo caminho. E, assim, vão-se os dias e travessias. Sempre com aquelas mãos a nos dar segurança.
É em uma dessas travessias que percebemos que aquelas mãos já não estão mais ali a nos segurar. Mas, não conseguimos dar conta do momento exato em que elas nos deixaram soltos, por nossa conta. Se foi naquela exata travessia ou em outras atravessadas. Não nos damos conta desse momento porque, mesmo não estando ali, naquela travessia, fisicamente, são elas que mantém nosso equilíbrio.
Já crescidos, outros muros colocamos e são colocados em nossos caminhos. Por vezes, há aqueles que apenas queremos desviar. Há outros muros em que queremos caminhar. E, sobre esses, por serem por vezes bem mais altos, o medo é ainda maior. Tal quando pequeninos, queremos olhar para os lados e enxergar aquelas mãos que nos dão sustentação.
Não são essas mãos o que nos mantém sobre o muro. Mas, são as mãos que nos dão a segurança necessária para caminharmos no muro. E, lá no nosso íntimo, não são essas mãos como suporte o que queremos: queremos apenas que essas mãos sejam as que nos aplaudam por cada trecho do muro caminhado. E que vibrem conosco pelo muro caminhado.
Publicado originalemnte no livro “O melhor banquete”, de Rogério Bezerra da Silva, pela Caravana Editora, em 2021.