Cena do crime 1: um homem corre e recebe tiros pelas costas. Seu corpo e quatro pacotes de sabão ficam espalhados pelo chão.
Cena do crime 2: policias abordam um mototáxi. Um deles arremessa o homem de cima de uma ponte . Mais tarde, um corpo de homem é visto boiando no rio entre São Paulo e Diadema.
Um vídeo mostra o momento em que um policial militar joga um homem do alto de uma ponte na Zona Sul de São Paulo. O caso aconteceu na madrugada desta segunda-feira (2).
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— GloboNews (@GloboNews) December 3, 2024
Será que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) continua não estando “nem aí” para as ações da polícia que comanda? Continua nem aí para o fato de que a PM paulista aparece mais no noticiário pelos crimes que comete do que pelos crimes de que deveria combater?
Em março, o governador foi denunciado no Conselho de Direitos Humanos da ONU por entidades brasileiras devido à escalada da violência policial em São Paulo. A resposta do governador foi o deboche.
Nove meses depois, os relatos de violência policial continuam aparecendo, com casos escabrosos como os que vieram à tona nesta semana.
Sob o comando do ex-policial da Rota e atual secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, fatos de horror semelhante acontecem aos montes. Como o do menino Ryan, de 4 anos, morto durante uma operação policial em Santos enquanto brincava perto de casa. No dia seguinte, a PM foi ao velório, intimidou pessoas e tentou impedir o cortejo fúnebre com o corpo do garoto. O pai dele havia sido assassinado pela polícia em fevereiro deste ano durante a operação verão na Baixada Santista. Aliás, a Operação Verão e a Escudo, realizadas neste ano e no ano passado na Baixada deixaram um saldo de 84 mortes.
Desde o início da gestão Tarcísio, as polícias paulistas mataram um adolescente a cada nove dias. E os casos de morte provocadas por policiais subiram assustadoramente no estado. Em 2022, antes de Tarcísio, as polícias (militar e civil) mataram 176 pessoas. Mas em 2024, somente até agosto, foram 441 mortes.
O programa de uso de câmeras corporais nas fardas dos policiais militares é constantemente ameaçado. O governo não investe o que devia no programa, além de escolher comprar câmeras que não gravam ininterruptamente. O próprio policial deve ligar a câmera que poderá mostrá-lo cometendo um crime.
As ocorrências desta semana não são, portanto, casos isolados. São fruto de uma política de segurança que estimula as ações violentas e o extermínio de suspeitos, sem direito à defesa nem a julgamento. Um verdadeiro tribunal de justiçamento, com farda e soldo garantidos pelo estado.
Hoje Tarcísio publicou em suas redes que quem atira pelas costas ou joga uma pessoa de uma ponte “não está à altura de usar essa farda [da PM]”.
E aquele que há nove meses dizia que não está nem aí para a violência policial e que trata a barbárie paulista como fatos isolados, está à altura de ser chefe desta PM fardada?