
O deputado estadual bolsonarista Guto Zacarias (União) quer inserir conteúdos contra a esquerda no livro “Ainda estou aqui”, do escritor Marcelo Rubens Paiva e que inspirou o filme homônimo de Walter Salles. A proposta de Zacarias é acrescentar “introdução e comentários” nos exemplares do livro caso sejam distribuídos pelo estado de São Paulo, conforme proposto pela deputada estadual Professora Bebel (PT).
Zacarias parece incomodado com o sucesso do filme que trata do assassinato pela ditadura militar (194-1985) do ex-deputado federal cassado, Rubens Paiva, pai do escritor. Tão incomodado que quer inserir as informações no livro por força de lei, sem se preocupar sequer em ouvir o autor.
A deputada Bebel propôs projeto de lei que obriga o governo paulista a distribuir ao menos um exemplar do livro para cada escola presente no estado, seja ela pública ou privada. Uma semana depois, Zacarias apresentou uma emenda onde propõe que os exemplares a serem distribuídos por São Paulo tenham “introdução e comentários” sobre movimentos de guerrilha urbana e rural, a guerra fria e a disputa entre Estados Unidos e União Soviética e o que ele chama de crimes praticados pela resistência à ditadura.

O livro, por relatar o drama da família Paiva, faz um importante resgate histórico dos crimes cometidos pela ditadura. Rubens Paiva foi levado por agentes da ditadura no início dos anos 1970 e jamais retornou. Seu corpo até hoje não foi encontrado. Eunice Paiva, sua esposa, travou longa batalha pelo reconhecimento do assassinato do marido por agentes da ditadura.
Outras iniciativas na Alesp
O deputado estadual Simão Pedro (PT) fez uma proposta parecida à de Bebel, no entanto, pediu diretamente à Secretaria de Educação, para que distribua o livro nas escolas.
Já o deputado Teonilio Barba (PT) propôs que a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) conceda o Colar de Honra ao Mérito à atriz Fernanda Torres, que interpreta a protagonista Eunice Paiva no filme. Fernanda ganhou o Globo de Ouro e concorre ao Oscar de Melhor Atriz por sua atuação no longa-metragem. Barba lembra que o setor cultural é alvo de muita agressividade por parte da extrema-direita: “essa hostilidade se explica, pois o setor cultural sempre esteve na linha de frente em defesa da democracia, e continua tendo um papel fundamental nos momentos em que os valores democráticos são questionados”.
As deputadas Beth Sahão (PT), Paula da Bancada Feminista (PSOL) e Bebel protocolaram pedidos de aplauso a Walter Salles, Fernanda Torres, Marcelo Rubens Paiva, Selton Mello e à equipe que produziu o filme.