
Os ataques misóginos e machistas sofridos pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na Comissão de Infraestrutura do Senado na última terça-feira (27) evidencia como a violência de gênero persiste como instrumento de silenciamento e deslegitimação das mulheres na política, afetando sua atuação e participação democrática.
Mas o que dizem mulheres pensadoras a respeito das relações entre homens e mulheres, ainda estabelecidas com base no machismo e misoginia?
Conforme a filósofa Judith Butler, a linguagem ofensiva e os gestos de interrupção são práticas que não apenas visam constranger, mas também consolidar estruturas de poder patriarcais que buscam excluir as mulheres dos espaços públicos de decisão.
Nesse sentido, é fundamental reconhecer, como defende a socióloga brasileira Heleieth Saffioti, que a luta pela igualdade de gênero não se limita ao acesso formal aos cargos, mas passa, sobretudo, pela transformação das práticas políticas que naturalizam o autoritarismo masculino e a desqualificação das vozes femininas.
O papel desempenhado por Marina Silva, ao resistir aos ataques e reafirmar seu compromisso com a defesa do meio ambiente é exemplo concreto da importância da presença feminina na política.
Como enfatiza a ativista e filósofa Angela Davis, mulheres que ocupam posições de liderança e resistência tornam-se referências fundamentais na luta por justiça social e igualdade. Diante disso, combater a misoginia e a violência de gênero na política é uma tarefa indispensável para o fortalecimento da democracia e para a garantia dos direitos das mulheres. A valorização e a ampliação da participação feminina, com respeito e igualdade, são passos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa, plural e democrática.
Reações do governo federal
Logo após o episódio de desrespeito à ministra Marina, vozes femininas no governo federal se levantaram em sua defesa.
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, divulgou nota classificando o episódio como “um completo absurdo”. “Ela [Marina Silva] foi desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares — em março, um deles inclusive incitou a violência contra ela”. Lopes destacou a gravidade e o caráter misógino do episódio: “Minha total solidariedade e apoio à Marina Silva, liderança política respeitada mundialmente. É preciso haver retratação e responsabilização para que isso não se repita”.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, também se manifestou: “Impossível não ficar indignada com os desrespeitos sofridos pela ministra. Sua bravura nos inspira e sua trajetória nos orgulha. Uma mulher reconhecida mundialmente por sua atuação não se curvará a um bando de misóginos”.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, publicou vídeo repudiando a postura dos senadores: “Como mulher negra, como ministra, como companheira de Esplanada, sinto profundamente cada gesto de desrespeito como se fosse comigo. Porque é com todas nós. A violência política de gênero e raça tenta nos calar, mas seguimos em pé, de mãos dadas, reafirmando que não seremos interrompidas”.
A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, ressaltou: “Marina, simplesmente uma das mais importantes defensoras do meio ambiente, é reconhecida mundialmente”.
Gleisi Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais, classificou como “inadmissível” o comportamento dos senadores: “Totalmente ofensivos e desrespeitosos com a ministra, a mulher e a cidadã. Manifestamos repúdio aos agressores e total solidariedade do governo do presidente Lula à ministra Marina Silva”.
Saiba como foram os ataques misóginos a Marina Silva
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi alvo de ataques misóginos e reiteradas interrupções durante audiência na Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado, realizada nesta terça-feira (27).
A sessão, convocada para que a ministra prestasse esclarecimentos sobre a proposta de criação da maior unidade de conservação marinha do país, na Margem Equatorial, degenerou em um embate político marcado por ofensas pessoais e tentativas de silenciamento.
O episódio teve início quando o senador Marcos Rogério, do PL de Roraima, interpelou Marina com a frase: “Ponha-se no seu lugar”, após cortá-la diversas vezes e impedir que respondesse aos questionamentos.
A ministra havia sido convidada para explicar a posição do governo em relação à conservação ambiental na região onde a Petrobras pretende realizar estudos para exploração de petróleo.
O clima na comissão se acirrou ainda mais quando a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) interveio para exigir que o direito de fala da ministra fosse respeitado: “O respeito precede dar a ela o direito de fala. Isso aqui não é uma ditadura… É inadmissível a forma como a ministra está sendo tratada”.
Quando conseguiu retomar a fala, Marina defendeu o papel estratégico do meio ambiente para o país: “Ao defender o meio ambiente, estou defendendo os interesses estratégicos do Brasil”. Marina no entanto, retirou-se da audiência quando os ataques e o desrespeito recomeçaram.