
Por Fabio Alves
O Governo Lula lançou uma das mais robustas estratégias de enfrentamento às filas da atenção especializada no Sistema Único de Saúde (SUS): o programa Mais Especialistas, que tem como missão ampliar o acesso, reduzir o tempo de espera e garantir continuidade do cuidado para milhões de brasileiros.
Com foco especial no estado de São Paulo, o plano integra ações estruturantes como telessaúde, mutirões, clínicas móveis, oferta ampliada na rede pública e parcerias com hospitais privados e filantrópicos. A meta é: levar atendimento onde o povo está, e no tempo certo.
Desafios históricos da Atenção Especializada
O Brasil enfrenta desafios profundos na organização dos cuidados especializados, com destaque para:
- A falta de especialistas em regiões distantes;
- A fragmentação dos sistemas de informação;
- O baixo uso de tecnologia para regulação e telessaúde;
- E a ausência de protocolos unificados de cuidado e de gestão de filas.
Além disso, a pandemia de Covid-19 agravou a situação, com aumento de até 40% nos casos crônicos sem acompanhamento adequado, impactando diretamente o diagnóstico precoce e o início do tratamento.
O que muda com o programa Mais Especialistas?
A proposta se baseia em cinco eixos centrais:
- Agilidade no atendimento: pacientes serão encaminhados para consultas e exames com prazos definidos — 30 dias para oncologia e 60 dias para demais especialidades.
- Fila única e retorno garantido à Unidade de Saúde da Família para continuidade do cuidado.
- Telessaúde pública e privada para encurtar distâncias e priorizar regiões com vazios assistenciais.
- Gestão ativa das filas, com uso de dados em tempo real, monitoramento de absenteísmo e coordenação do cuidado.
- Ampliação da capacidade instalada: mutirões, novas estruturas hospitalares, contratação da rede privada e formação de especialistas.
Investimento e impacto em São Paulo
O estado de São Paulo aprovou, em dezembro de 2024, um Plano de Ação Regional com previsão de R$ 446 milhões em investimentos para a ampliação do acesso especializado, beneficiando mais de 2,3 milhões de pessoas. Os aportes se concentram em áreas como:
- Oncologia (R$ 140 milhões)
- Ortopedia (R$ 174 milhões)
- Oftalmologia, Cardiologia e Otorrinolaringologia
Mais de 256 municípios paulistas aderiram à iniciativa. Já estão em operação núcleos de regulação e gestão do cuidado, com destaque para a coordenação por equipes de enfermagem e integração via prontuário eletrônico.
Atendimento onde o povo está: carretas, ambulâncias e vans
O programa também prevê a utilização de 150 carretas de saúde, capazes de realizar até 4,6 milhões de consultas e 9,4 milhões de exames por ano, com foco em especialidades como cardiologia, ginecologia, oftalmologia e otorrinolaringologia.
Além disso, serão disponibilizados até 6.300 veículos para transporte de pacientes às unidades de saúde — uma ação essencial para populações da zona rural, áreas metropolitanas e comunidades indígenas.
Comunicação direta com o cidadão
A experiência do usuário será monitorada por canais como Whatsapp, Meu SUS Digital, ligações e ouvidorias, garantindo acompanhamento do atendimento e transparência sobre agendamentos, exames e cirurgias.
Formação de mais especialistas e novo modelo de pagamento
Para dar sustentabilidade ao programa, o Governo Federal lançou edital para contratação de 500 médicos especialistas e criou 3 mil novas bolsas de residência médica em áreas prioritárias.
Também foi criada a nova Tabela Agora Tem Especialistas, que define pagamento por resultado e cuidado integral, substituindo o modelo fragmentado por procedimentos.
Monitoramento em tempo real e governança tripartite
O Ministério da Saúde articula uma governança integrada com Estados e Municípios, com uso de painéis de dados e a Rede Nacional de Dados em Saúde. A iniciativa mobiliza 25 estados e mais de 3.800 municípios.
O programa Mais Especialistas integra o movimento “Agora Tem Especialidades”, parte da reconstrução do SUS iniciada em 2023. A proposta é fortalecer o cuidado especializado com base em princípios de equidade, regionalização e protagonismo dos usuários. Um SUS que cuida das pessoas, da consulta ao tratamento.
Fabio Alves é médico e professor da Unicamp.
* O Radar Democrático publica artigos de opinião de autores convidados para estimular o debate.