quinta-feira, 2/10/2025
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Entrevista

Ao apoiar Trump, Tarcísio caiu na armadilha que ele mesmo montou, diz sociólogo

Clemente Ganz, ex-diretor do Dieese, afirma que governador de São Paulo entrou em uma roleta russa; veja os destaques da entrevista
Clemente Ganz: Brasil deve se unir para fortalecer sua soberania - Foto: acervo pessoal
Clemente Ganz: Brasil deve se unir para fortalecer sua soberania – Foto: acervo pessoal

O sociólogo, professor universitário e ex-diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz, afirmou que a associação do governador Tarcísio de Freitas ao presidente dos Estados Unidos Donald Trump se tornou uma “armadilha” para ele próprio e um “erro clássico” que compromete a soberania nacional. Em entrevista ao Radar Democrático, Ganz alertou para os riscos de submissão aos EUA e defendeu a união de forças políticas e econômicas para proteger os interesses do Brasil e, em particular, do estado de São Paulo.

Sobre a situação paulista, Ganz criticou a postura do governador Tarcísio de Freitas: “Olha, ele construiu a sua própria armadilha. Ao se associar a esse presidente dos Estados Unidos, ele firmou compromissos que agora estão mais ou menos como uma roleta russa… ele disparou uma bala, foi no meio da sua testa, do ponto de vista político.”

Veja a entrevista de Clemente Ganz na íntegra

Ganz ironizou a postura de Tarcísio, sugerindo uma extrema submissão : “Talvez ele possa até querer vender o Brasil. O Trump não estava querendo comprar o Canadá, talvez ele queira vender o Brasil. Vamos fazer um arranjo aqui, nós estamos vendendo, estamos à venda. Acho que ele errou. Um erro clássico, básico que é, como governante, abrir mão da soberania do seu país.”

O sociólogo explicou que o objetivo de Trump é pressionar empresas a investirem nos Estados Unidos, citando o caso da Embraer, que cogitou construir uma unidade industrial nos EUA devido às tarifas. O sociólogo também apontou a estratégia americana de usar sua força econômica e monetária para atrair investimentos e produção industrial de volta ao seu território.

Impacto das tarifas e a resposta do Brasil

Ganz expressou ceticismo quanto à capacidade dos EUA de centralizar a produção global, argumentando que os países não deslocarão simplesmente sua capacidade produtiva. Ele mencionou a reorganização da capacidade produtiva de países e regiões, como a União Europeia e o Mercosul, visando maior autonomia após a pandemia. O sociólogo criticou a política de Trump, que prioriza os EUA em detrimento da cooperação internacional, e sua aversão à participação do Brasil nos BRICS.

O entrevistado defendeu a autonomia do Brasil em suas relações internacionais, citando a declaração do presidente Lula: “O Brasil é dos brasileiros e nós temos autonomia para construir as nossas relações econômicas.” Ganz também mencionou a saída do Brasil do mapa da fome e os elogios da imprensa internacional ao governo Lula.

“O que o Trump está fazendo é escalar isso, que era de 10 e está puxando para mil. Ou seja, ele está dizendo, não, eu quero que isso aconteça nos Estados Unidos, dane-se o mundo”, disse Ganz.

União e resistência

O professor destacou a preocupação do setor produtivo e as ações do governo federal, combinando firmeza na defesa da soberania com a busca por negociações. Ele mencionou a solicitação de reunião do ministro do comércio dos EUA com o ministro Fernando Haddad e interpretou o anúncio de Trump como o início de um processo de negociação buscado pelo Brasil.

O sociólogo defendeu a união de forças políticas e econômicas para proteger os interesses do Brasil e de São Paulo: “o impacto sobre a economia de São Paulo e sobre as empresas de São Paulo e sobre os empregos daqueles que trabalham aqui em São Paulo precisam ser defendidos pelo Brasil, pelo governo federal, pelo governo estadual, pelos empresários, pelo movimento sindical”.

Ganz conclamou à união e resistência: “Nossa tarefa é nos unir, resistir e dizer que isso não vai acontecer”. Ele recomendou a união de empresários, trabalhadores, governo, justiça, setor cultural e imprensa para defender a soberania e a autonomia do país e dos poderes.

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