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A 11ª edição da FELIZS – Feira Literária da Zona Sul – celebrará a memória e a resistência popular com uma programação literária gratuita na Zona Sul de São Paulo, entre 19 e 27 de setembro de 2025. O evento, que se consolidou como um marco no calendário cultural paulistano, prestará uma homenagem especial à ativista e educadora popular Ana Dias e contará com a presença de nomes como Lilia Guerra e Cidinha da Silva.
Nascida do desejo de valorizar artistas e escritores da periferia da Zona Sul, a feira adota a literatura como linguagem central para promover um intenso intercâmbio cultural. Com o tema “Memória e resistência: a luta não é pra hoje é para sempre”, a edição de 2025 fará uma “mulheragem” a Ana Dias, figura emblemática de resistência popular. Ana é viúva de Santo Dias, líder operário assassinado em 1979 durante a ditadura militar em um piquete em Santo Amaro.
Após o assassinato do marido, Ana assumiu o compromisso de manter viva sua memória e luta. Militante nas Comunidades Eclesiais de Base, ela e Santo Dias migraram do interior para o Jardim Ângela no final dos anos 1960, engajando-se ativamente nas causas dos trabalhadores. Ana fortaleceu sua atuação política ao lado de outras mulheres, organizando clubes de mães, como o de Santa Margarida, e participando do Movimento do Custo de Vida, que combatia as políticas econômicas da ditadura.
“Mesmo alvo de ameaças, manteve-se firme, afirmando a importância da luta coletiva e da memória, por isso a nossa escolha e mulheragem”, frisa Silvia Tavares, educadora e produtora da Felizs. Atualmente, Ana Dias permanece atuante no Comitê Santo Dias, ao lado dos filhos Luciana e Santo Filho, promovendo atos públicos no local onde o marido foi tragicamente morto.
O objetivo da FELIZS nesta edição é estabelecer conexões entre a experiência do período ditatorial e os desafios atuais enfrentados pelas periferias, fomentando a reflexão sobre a contínua batalha por direitos e visibilidade. Diane Padial, idealizadora da feira, destaca que “eventos como a FELIZS, que dão visibilidade para autores independentes expressarem suas questões, são de suma importância para a literatura nacional, pois trazem um panorama alternativo e inclusivo”.
Programação da FELIZS
A programação foi elaborada para valorizar todos os artistas e incluirá saraus, encontros com autores, shows, performances, conversas literárias e oficinas. Entre os nomes confirmados estão a própria Dona Ana Dias, Bel Santos Mayer, Lilia Guerra, Cidinha da Silva, Jennyfer Nascimento e Marcelino Freire.
A parte musical contará com shows de Lenna Bahule com Ermi Panzo, Grupo Cupuaçu, Jonatas Petróleo, Grupo Candearte, Bloco Afro É Di Santo, Victor da Trindade e Geraldo Magela. O tradicional Sarau do Binho terá uma apresentação adicional no Museu da Língua Portuguesa.
Uma das iniciativas mais impactantes da FELIZS é a Moeda Literária, criada em 2018. Este projeto destina recursos para que estudantes e professores de escolas públicas, além de mediadores de leitura, possam adquirir livros diretamente dos expositores durante a feira. “Conseguir oferecer esse benefício, fortalece a produção e difusão de obras literárias”, explica Suzi Soares, produtora e curadora da Felizs. Em 2024, R$30 mil em Moedas Literárias circularam no evento, e a meta para 2025 é alcançar R$40 mil, impulsionando a economia criativa local. A campanha para arrecadação está aberta na plataforma Benfeitoria.
Considerada uma das feiras literárias periféricas precursoras no país, a FELIZS tem sido inspiração para a criação de eventos similares e influenciado políticas públicas para o setor. A feira espera receber 10 mil pessoas, reunindo cerca de 60 expositores de livros e 26 expositores de artesanato e gastronomia.
O evento é patrocinado pelo Itaú, via Lei Rouanet, e conta com o apoio de instituições como Sesc, Fundação Tide Setubal, PMLLB, Câmara Periférica do Livro e Fábricas de Cultura.