
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), convocou uma coletiva de imprensa de improviso nesta terça-feira (30) para rebater as ações do governo federal e rapidamente negar o envolvimento do crime organizado na adulteração de bebidas com metanol, que já causou cinco mortes confirmadas e sete casos de intoxicação grave no estado.
Segundo a revista Fórum, a movimentação de Tarcísio ocorreu horas após o governo federal anunciar medidas abrangentes e a entrada da Polícia Federal (PF) nas investigações, levantando a suspeita de atuação de grupos criminosos.
Ação Federal e Suspeita de Crime Organizado
Ainda pela manhã, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, havia detalhado as iniciativas federais para combater a crise. Entre as medidas, Padilha determinou a notificação imediata de qualquer caso suspeito de intoxicação por metanol e destacou que, em apenas um mês, o número de casos no Brasil atingiu quase a metade do total anual histórico.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, confirmou a instauração de um inquérito para investigar a adulteração das bebidas e suas circunstâncias, incluindo a possível ligação com o crime organizado, devido a indícios de distribuição interestadual e conexões com investigações anteriores envolvendo a cadeia de combustíveis no Porto de Paranaguá.

A Reação de Tarcísio e a Negação do PCC
A postura proativa do governo federal parece ter provocado uma reação de urgência atrasada por parte do governo paulista. Na segunda-feira, quando vieram à tona os primeiros casos de intoxicação, o governador estava em Brasília e seu governo não anunciou nenhuma medida sobre o caso.
Em sua coletiva na tarde desta terça-feira (30), notavelmente improvisada e sem aviso prévio na agenda oficial, Tarcísio de Freitas expressou irritação ao abordar as especulações sobre o crime organizado.
“Tem-se especulado sobre, e aí agora tem esse negócio em São Paulo, tudo que acontece é PCC”, afirmou o governador. Ele categoricamente negou qualquer evidência de participação de organizações criminosas na adulteração das bebidas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), sugerindo que os inquéritos apontam para indivíduos isolados em destilarias clandestinas sem vínculos entre si ou com o crime organizado.
Divergências sobre a Causa Estrutural
Tarcísio caracterizou o problema como “estrutural” e tentou desviar o foco, mencionando uma suposta fragilização do controle de bebidas ocorrida em 2016. Ele fez referência a uma modificação de uma instrução normativa da Receita Federal (IN 1637/2016, que alterou a IN 1432/2013) que teria retirado a obrigatoriedade de selos e enfraquecido a fiscalização.
No entanto, a própria Receita Federal emitiu uma nota desmentindo essa ligação, esclarecendo que não há relação entre a adição criminosa de metanol e o desligamento do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), que controlava predominantemente refrigerantes e cervejas, não destilados. O controle de destilados, segundo a Receita, é feito por selos, que não se confundem com o Sicobe.
Medidas Estaduais e Alerta de Saúde
Apesar da negação sobre o crime organizado, o governador paulista anunciou a instalação de um “gabinete de crise” para acompanhar os fatos. Medidas incluem a interdição cautelar de estabelecimentos onde houve consumo das bebidas adulteradas, aprofundamento das investigações com a Polícia Civil e a Secretaria da Fazenda, e a criação de canais de denúncia, como o 181 da Secretaria de Segurança Pública e um canal específico do Procon.
Até o momento, o estado de São Paulo confirmou sete casos de intoxicação por metanol e cinco óbitos, com um deles comprovadamente relacionado à ingestão de bebida adulterada. Foram apreendidas 112 garrafas de vodca suspeitas e 15 milhões de selos fraudados.
Perigo do Metanol e Como Identificar a Intoxicação
A intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos que podem levar à morte, cegueira irreversível e falência de órgãos.
Os sintomas iniciais, que podem surgir entre 6 e 24 horas após a ingestão, incluem dores abdominais intensas, náuseas, vômitos, tontura, confusão mental e problemas de visão (visão turva, fotofobia, perda de visão). Em casos mais graves, pode haver convulsões, coma e óbito.
É crucial buscar atendimento médico imediato ao apresentar esses sintomas após o consumo de bebidas alcoólicas, especialmente as de origem desconhecida. Instituições como o Disque-Intoxicação da Anvisa (0800 722 6001) e o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI: (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733) oferecem orientação especializada para evitar o agravamento da saúde dos pacientes.