
Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi a Brasília nesta segunda-feira se encontrar com seu padrinho, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para mais uma vez jurar fidelidade. Mas para justificar sua falta ao trabalho em São Paulo e os custos de sua viagem, marcou na agenda um encontro com o chefe do Escritório de Representação do Estado na capital federal, Vicente Santini.
O encontro com Bolsonaro e seu filho Flávio, senador pelo Rio de Janeiro, não foi colocado na agenda. A estratégia de colocar um compromisso no escritório paulista serve para despistar ou justificar a viagem, já que sua última ida a Brasília em dia de trabalho paga com recursos público lhe rendeu denúncias na Justiça e um pedido de impeachment na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
O deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT) ficou indignado com a viagem “para encontrar e defender criminosos que atentaram contra a democracia”. Segundo o deputado, a presença em Brasília contrasta com a ausência de Tarcísio e de seu governo nos municípios paulistas.
“Enquanto prefeitos relatam abandono, falta de apoio e ausência do Executivo, o governador prefere dedicar seu tempo a reuniões políticas fora do Estado e sem transparência. É um desrespeito à população paulista, que espera soluções para os problemas reais que enfrentamos”, afirmou Marcolino.
Nos dias 2 e 3 de setembro, quando começou o julgamento de Bolsonaro e outros integrantes da trama golpista, Tarcísio foi a Brasília com recursos pagos pelo estado sem ter nenhuma agenda pública de interesse de São Paulo. Durante a viagem articulou intensamente pela aprovação da anistia.

O pedido de cassação do mandato do governador foi feito pelas federações PT-PCdoB-PV e PSOL-Rede por uso da máquina pública e por articulação golpista pela anistia de Bolsonaro e outros envolvidos na tentativa de golpe de estado em 2022/23. Além disso, os deputados federais Rui Falcão (PT), Luciene Cavalcante (PSOL), estaduais Paulo Fiorilo (PT) e Carlos Giannazi (PSOL) e o vereador paulistano Celso Giannazi (PSOL) denunciaram o governador pelos mesmos motivos à Justiça e ao Ministério Público.
Candidatura em 2026
Tarcísio mais uma vez negou que será candidato à Presidência e reafirmou que disputará a reeleição em São Paulo. O encontro com Bolsonaro, autorizado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, foi marcado pela discussão sobre a proposta de anistia ou redução de penas para os condenados pelos atos de 8 de janeiro, além de intensificar as especulações sobre a corrida presidencial de 2026.
O impasse da anistia
Na saída do encontro, Tarcísio e Flaro disseram que o cerne do diálogo entre o governador e o ex-presidente foi o projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados visando beneficiar os envolvidos na tentativa de golpe. Apesar de o relator da proposta, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), ter sinalizado que o texto se concentrará em uma “dosimetria” ou redução de penas – e não em uma anistia ampla, dada a jurisprudência do STF sobre a inconstitucionalidade de anistia para crimes contra a democracia –, tanto Tarcísio quanto o senador Flávio Bolsonaro expressaram insatisfação.
“Não nos satisfaz (redução de penas para condenados por golpismo)”, afirmou Tarcísio, ecoado por Flávio, que defende que os réus “responderam por crimes que não cometeram”. A direita busca usar instrumentos regimentais para alterar o texto e alinhá-lo aos seus interesses.
Ao Brasil de Fato, a advogada criminalista Amanda Vitorino, explica que, enquanto o Congresso Nacional não tem competência para alterar a dosimetria da pena (processo judicial que define o tempo de prisão), é possível modificar os tipos penais pelos quais os réus foram condenados.
Uma mudança na legislação que beneficie o réu pode ser aplicada retroativamente. No entanto, qualquer lei aprovada pelo Congresso deve respeitar os princípios do Estado Democrático de Direito e a separação dos Poderes, sob risco de ser declarada inconstitucional pelo STF.
Pressão por 2026 candidatura presidencial
O encontro também foi palco para especulações sobre Tarcísio e seu futuro em 2026. Agentes do centrão, da direita tradicional e do mercado financeiro têm apontado o governador como o nome mais forte para enfrentar o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Contudo, Tarcísio, num movimento de fidelidade ao clã, reiterou seu desejo de disputar a reeleição ao governo paulista, afirmando que a visita a Bolsonaro visava apenas “prestar apoio, solidariedade, estender a mão, sem nenhum tipo de interesse”.
Flávio Bolsonaro, por sua vez, ligou o sinal verde para qualquer candidatura presidencial do grupo que apoie abertamente a questão da anistia.
Militantes de organizações de esquerda, como Movimenta DF e Coletivo Alvorada, realizaram um protesto em frente ao condomínio de Bolsonaro, exibindo faixas e entoando gritos como “E aí Tarcísio, já desistiu da Presidência?” e “Sem anistia para Bolsonaro e golpistas”.
Senado
Além da anistia e das especulações presidenciais, Tarcísio discutiu com Bolsonaro as eleições para o Senado Federal em 2026. O governador sinalizou que pretende apoiar a candidatura de Guilherme Derrite, atual Secretário de Segurança Pública de São Paulo, a uma das vagas. Derrite é responsável pelo aumento do índice de homicídios provocados por policiais em São Paulo nos últimos anos.
A segunda vaga ficaria com o PL, dependendo da escolha final de Bolsonaro, que ainda não definiu um nome para a sigla.