
A bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) publicou um boletim com acusações sobre a atuação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no caso da contaminação de bebidas alcoólicas por metanol, que resultou em cinco mortes já confirmadas no estado. Os parlamentares questionam a demora na manifestação e nas ações do governo estadual e apontam para possíveis ligações perigosas entre o crime organizado e aliados políticos do governador.
Tudo isso sem falar no lamentável episódio da piada do governador com a Coca-cola, relembrando o que havia de pior em seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O pedido de desculpas veio no dia seguinte, mas cheio de marketing e carente de sinceridade, como notou Josias de Souza.
O registro atualizado de vítimas fatais inclui três homens na cidade de São Paulo, uma mulher em São Bernardo do Campo e um homem em Osasco. O estado mantém o monitoramento, contabilizando 20 casos de intoxicação já confirmados e 181 suspeitas ainda sob análise.
Em âmbito federal, o Ministério da Saúde reporta um total de 17 casos confirmados em todo o país — 15 em São Paulo e dois no Paraná. O órgão também investiga 200 casos suspeitos e 12 mortes adicionais que podem estar relacionadas à contaminação em diversas unidades federativas.
Alerta tardio e omissão
Enquanto o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, emitia alertas e tomava medidas para conter a crise, o governo de São Paulo demorou a se pronunciar. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, chegou a alertar a rede de saúde pública e orientar a população sobre os riscos do metanol. A Polícia Federal também foi acionada para investigar distribuidores de bebidas falsificadas ligados ao crime organizado.
Só depois das ações do governo federal, Tarcísio se manifestou, anunciando investigações da Secretaria de Segurança e fiscalização da Vigilância Sanitária, sem alertar a população ou a rede de saúde estadual. O pior veio esta semana quando Tarcísio disse que só se preocuparia com a adulteração de bebidas por metanol “no dia em que começarem a falsificar Coca-Cola”.
Ligações perigosas
O boletim da bancada do PT também levanta suspeitas sobre a proximidade de Tarcísio com pessoas e empresas investigadas por ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). A maior doadora da campanha de Tarcísio na eleição de 2022, a pecuarista Maribel Golin, é investigada por lavagem de dinheiro do PCC.
Além disso, um dos seguranças de Tarcísio, o sargento Diego Costa Cangerana, foi preso em dezembro de 2024 por participação em um esquema de lavagem de dinheiro do PCC envolvendo fintechs da Faria Lima.
Os petistas lembram do assassinato de um operador do PCC no Aeroporto de Guarulhos, que expôs o envolvimento de policiais com o crime organizado.
Suspeitas sobre o crime organizado
Diante desse cenário, a bancada do PT questiona a postura do governo Tarcísio de descartar, de antemão, a hipótese de atuação do crime organizado no caso do metanol. “Tudo isso junto pode até ser uma enorme coincidência, mas é muito, muito esquisito isentar o crime organizado assim de cara”, diz o boletim da bancada.
Para os parlamentares, a proximidade entre o PCC, a distribuição de gasolina batizada com metanol, os apoiadores de Tarcísio na Faria Lima e a participação de policiais exige que a relação com o crime organizado seja considerada como linha de investigação. “Afinal, alguém tem que fornecer o metanol e financiar destilarias clandestinas”, questionam.
Nesta quarta-feira, a Polícia Científica de São Paulo chehgou à conclusão de que o metanol foi adicionado às garrafas de bebidas. O que ainda não se sabe é se foi colocado para aumentar volume ou usado para lavar as garrafas de produtos falsificados.

Deboche no pior estilo bolsonarista
Tarcísio teve que pedir desculpas de seu deboche à la Bolsonaro. Na internet e na imprensa, o governador foi duramente criticado por sua fala insensível e descompromissada com a saúde pública. O foco das colunas de opinião.
Os colunistas Josias de Souza, Roger Modkovski e Bernardo Mello Franco convergiram na avaliação de que a frase confirma a “bolsonarização” do governador. Roger Modkovski e Bernardo Mello Franco apontaram que a atitude de Tarcísio emularia o estilo de Jair Bolsonaro (PL), que também minimizou mortes e crises, como ao se referir à Covid-19 como uma “gripezinha”. Mello Franco sugere que Tarcísio quer se firmar como herdeiro político do ex-presidente, replicando seus traços mais negativos.
Josias de Souza classificou as desculpas do governador como “indesculpáveis”, argumentando que elas não eram um ato de humildade, mas de “marquetagem” e “arrogância”. O colunista analisou que mais da metade do vídeo do governador foi dedicada ao autoelogio e à enumeração de providências adotadas (ou ainda em projeto) para lidar com a crise. O argumento é que, se Tarcísio fosse um gestor eficiente, não estaria implementando essas medidas às pressas, sob pressão, mas sim por antecipação.
Bernardo Mello Franco citou outros episódios para enquadrar o comportamento de Tarcísio em um padrão de agressividade e desprezo institucional, visando a projeção política nacional. O colunista d’O Globo lembrou que o governador já reagiu a críticas sobre uma chacina policial dizendo: “Pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”.
Mais recentemente, ele incitou um coro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) em um evento, referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes como “ditador” e “tirano”. Para o jornalista, as atitudes de Tarcísio espelham a face mais sombria do bolsonarismo: o deboche diante da dor e a aposta no conflito como ferramenta de poder.