
Por Fabio Alves
A recente ameaça de transferência da gestão do Hospital Estadual de Sumaré (HES) da Unicamp para uma empresa contratada pelo Governo do Estado de São Paulo — seja uma Organização Social (OS) ou outro ente privado — deve ser compreendida como um ataque não apenas à universidade pública e ao do Sistema Único de Saúde (SUS), mas ao próprio pacto federativo da saúde e à lógica pública, democrática e regionalizada de atenção hospitalar.
O papel regional do HES sob gestão da Unicamp
Criado para atender uma região que concentra municípios com elevada demanda por internações e atenção especializada — como Sumaré, Hortolândia, Nova Odessa, Paulínia, Monte Mor e Americana — o HES cumpre, sob gestão da Unicamp, um papel estratégico como hospital regional de referência. Mais do que um prestador de serviços, ele é um núcleo vivo de articulação entre ensino, serviço e comunidade, enraizado nas necessidades da população usuária do SUS.
A gestão universitária garante que o cuidado em saúde seja orientado por princípios científicos, éticos e coletivos, promovendo práticas clínicas e organizacionais comprometidas com o fortalecimento do SUS. Trata-se de uma gestão que não é voltada ao lucro, mas ao interesse público, à formação crítica de trabalhadores da saúde e ao desenvolvimento de tecnologias do cuidado enraizadas na realidade brasileira.
O que está em disputa: saúde como direito e não como mercadoria
Não se trata apenas de preservar campos de estágio ou projetos de residência médica e multiprofissional — embora isso, por si só, já justificasse a luta. O que está em disputa é a própria concepção de saúde como direito social.
Substituir a Unicamp por uma empresa é submeter a gestão hospitalar a interesses privados, que tendem a privilegiar indicadores de produtividade mercantilizados em detrimento do cuidado integral e da articulação regional com os serviços da atenção básica e especializada.
Nesse contexto, é essencial reafirmar o papel da Unicamp como instituição pública comprometida com o controle social do SUS, com os Conselhos Municipais e o Conselho Estadual de Saúde, bem como com a pactuação nas instâncias regionais, como a Comissão Intergestores Regional (CIR).
A universidade não pode se isolar em sua torre de marfim: ela deve assumir, como tem feito no HES, sua função transformadora na sociedade, atuando junto aos gestores municipais, usuários e trabalhadores para que a rede de atenção à saúde funcione como um sistema articulado e resolutivo.
Comunidade acadêmica, Legislativo e sociedade regional unida
A defesa da permanência da Unicamp na gestão do HES deve, portanto, mobilizar não apenas estudantes, professores e profissionais, mas também parlamentares estaduais e federais comprometidos com a saúde pública e com o desenvolvimento regional.
Deputados que representam as cidades da Região Metropolitana de Campinas têm o dever de se posicionar contra a privatização silenciosa da saúde pública e a favor de uma gestão estatal de qualidade, ancorada em instituições com legitimidade pública.
Juntos devemos, portanto, lutar não apenas contra a entrega de um hospital a interesses privados, mas pela reafirmação de um projeto de saúde que reconhece a vida como valor supremo — e não como mercadoria.
Defendemos uma universidade pública que produz ciência, forma trabalhadores e cuida da população. Defendemos o SUS como política de Estado e como expressão concreta do direito à saúde.
O HES é do povo. E seguirá sendo, se a luta continuar.

Fabio Alves é médico e professor da Unicamp.
* O Radar Democrático publica artigos de opinião de autores convidados para estimular o debate.
* O Radar Democrático publica artigos de opinião de autores convidados para estimular o debate.