
Por Luiz Claudio Marcolino
A ameaça sobre a soberania brasileira baseada na chantagem do presidente estadunidense Donald Trump de impor a taxação de 50% aos americanos na importação de produtos brasileiros para tentar impedir o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, se realmente se concretizar a partir de 1º de agosto, causará um grande impacto à economia paulista e às nove regiões metropolitanas do estado. As cidades sedes das regiões metropolitanas serão impactadas, principalmente as maiores exportadoras, São José dos Campos e Piracicaba. Cada uma exportou US$ 1,9 bilhão e US$ 1,3 bilhão, respectivamente, em 2024.
O que preocupa com o início dessa tarifação é a redução das exportações e dos empregos. E é com isso que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado do ex-presidente Bolsonaro, deveria estar preocupado e adotando medidas urgentes, ao invés de ir para as redes sociais celebrar essa chantagem absurda em benefício do ex-presidente Bolsonaro, que deverá ser condenado por tentativa de golpe e outros crimes contra o país.
A falta de uma estratégia no Estado de são Paulo vai resultar em prejuízo do poder de compra do povo paulista. Do total de US$ 76 bilhões exportados pelo Estado de São Paulo, em 2024, quase US$ 14 bilhões foram direcionados aos Estados Unidos, o que corresponde a 18,2% do total das exportações paulistas.
Em relação ao Brasil, esse volume de exportação de São Paulo representa 22,6% do país. O governador Tarcísio já afirmou na imprensa que Trump disse que faria isso na campanha e que será necessário se adaptar e abrir novos mercados. Tarcísio parece não ter a dimensão do impacto real dessa medida, tem se posicionado em apoio ao presidente americano que está prejudicando São Paulo e o País.
Não há ação do governador para a promoção de novas oportunidades de mercado internacional. Todo o esforço para a abertura de novos mercados tem sido feito pelo Governo Federal, pelo presidente Lula (PT), durante as viagens e reuniões de negócios bilaterais.
No Brasil, dos US$ 337 bilhões exportados em 2024 para diversos países, US$ 40,4 bilhões foram destinados aos EUA, o que corresponde a 12% do total, o terceiro maior importador do Brasil. O primeiro é a China, com US$ 94,3 bilhões e o segundo, a União Europeia, com US$ 48,2 bilhões. No caso de São Paulo, o maior parceiro comercial são os Estados Unidos. Será que o governador desconhece esses dados? A China vem em segundo lugar com valor de exportação de US$ 10,5 bilhões.
O impacto dessa tarifação nas exportações poderá afetar o estado de São Paulo de forma diferente em cada região. Entre os produtos mais exportados para os Estados Unidos estão aviões, máquinas e equipamentos pesados para a construção civil e mineração e sucos de frutas foram os principais produtos de SP exportados para os EUA em 2024.
O Estado, no geral, vê 18% de suas exportações receberem algum grau de risco pela guerra tarifária, mas essa dependência não é uniforme. No município de Piracicaba, por exemplo, essa parcela chega a 42%, que envolve economia, produção e empregos.
Dessa segunda linha mais exportada, de máquinas pesadas para a construção civil, 80% sai de Piracicaba e cerca de 5% sai de Indaiatuba, e o restante se distribui entre algumas cidades.
Considerando as nove metrópoles que são sede das Regiões Metropolitanas do Estado de São Paulo, temos uma avaliação regional de quais produtos, quais setores podem ser impactados pelas tarifas do presidente Trump:
1º – São José dos Campos exportou 1,9 bilhão de dólares para os Estados Unidos, sendo US$1,6 bilhões em aviões e helicópteros, seguido por US$67,8 milhões em reatores e máquinas e outros US$ 61,5 milhões em produtos para a saúde, como pastas, gazes e ataduras. O total de exportação da cidade para o mundo é de R$ 5,2 bilhões de dólares.
2º – Piracicaba exportou 1,3 bilhão de dólares para os Estados Unidos. Desse total, US$ 993,8 milhões foram de máquinas como buldozers (grandes tratores de esteiras), escavadoras e pás carregadeiras, já outros R$ 309,9 milhões foram de grupos de electrogéneos e conversores e US$ 50,9 milhões de compostos heterocíclicos.
3º – Santos exportou 776,9 milhões de dólares para os Estados Unidos, sendo US$ 313,3 milhões em óleos, petróleo ou betuminosos, US$ 309,9 milhões em óleos brutos de petróleo ou minerais e US$ 65,5 milhões em açúcares.
4º – São Paulo exportou 563,8 milhões de dólares para os Estados Unidos, sendo US$ 89,9 milhões em quadros, pinturas e desenhos à mão, US$ 42,6 milhões em máquinas auto. E processamento de dados e US$ 40,9 milhões em açúcares.
5º Jundiaí exportou 234,4 milhões de dólares para os Estados Unidos, sendo US$ 76,5 milhões em transformadores elétricos, US$ 30,3 milhões em produtos de origem animal impróprios para consumo humano e US$ 14,3 milhões em óculos para correção e proteção.
6º – Campinas exportou 232,1 milhões de dólares para os Estados Unidos, sendo US$ 64,052 em óleos de petróleo ou betuminosos, US$ 36,1 milhões em pneumáticos novos de borracha e US$ 29,9 milhões em motores e geradores elétricos.
7º – Sorocaba exportou 190,6 milhões de dólares para os Estados Unidos, sendo US$ 40,155 milhões em buldozers, escavadoras e pás carregadeiras, US$ 40,1 milhões em partes e acessórios para automóveis e US$ 28,4 milhões em máquinas e aparelhos para selecional e peneirar.
8º – Ribeirão Preto exportou 62,2 milhões de dólares para os Estados Unidos, sendo US$ 32,9 milhões em estanho em formas brutas, US$ 12,019 milhões em chapas, folhas e tiras de plástico e US$ 3,1 milhões em pasta de cacau, mesmo desengordurante.
9º – São José do Rio Preto exportou 11,035 milhões de dólares para os Estados Unidos, sendo US$ 6,044 milhões em preparações capilares, US$ 1,199 milhão em artefatos de joalherias e suas partes e US$ 1,072 milhão em produtos de origem animal impróprios para consumo humano.
São Paulo precisa de uma estratégia urgente, de medidas contra essa ameaça à economia do estado e do país, de abrir negociações de unir os setores da indústria, do agronegócio que serão impactados. É inadmissível que o governador concorde e avalize essa medida imposta por Trump.
Tarcísio governa o maior estado do país, mas adotou uma administração privatista. Tarcísio tornou-se um gerenciador de contratos, sem planejamento, sem saber como enfrentar crises.

Luiz Claudio Marcolino (PT) é economista, deputado estadual, vice-presidente da Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e coordenador da Frente Parlamentar pelo Desenvolvimento das Regiões Metropolitanas e Consórcios Intermunicipais do Estado de São Paulo.
* O Radar Democrático publica artigos de opinião de autores convidados para estimular o debate.
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