
O Departamento de Saúde Coletiva (DSC) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp celebrou 60 anos de sua criação, juntamente com os 35 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), em uma cerimônia na última sexta-feira, 19. O evento foi marcado por homenagens e reencontros, contando com a presença de figuras relevantes da saúde pública brasileira, como o médico e professor Gastão Wagner de Sousa Campos e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O reitor da Unicamp, Paulo Cesar Montagner, destacou a relevância do departamento para a instituição e para o país. “Hoje é um dia importante para a Unicamp e para o DSC, um dia para celebrar nossas histórias”, afirmou Montagner, ressaltando o impacto da FCM no ensino e na pesquisa. “A FCM (Faculdade de Ciências Médicas) tem um impacto relevante no ensino e na pesquisa, e o departamento conta com uma geração de professores que atuaram fortemente naquilo que hoje é conhecido como SUS”.
O coordenador-geral da universidade, Fernando Coelho, complementou, enfatizando que o DSC, ao se tornar a base para a formação do SUS, demonstra o papel fundamental de uma universidade pública em oferecer grandes contribuições para o desenvolvimento nacional.
A Trajetória do DSC e a Construção do SUS

Gastão Wagner de Sousa Campos, um dos idealizadores tanto do DSC quanto do SUS, emocionou-se ao relembrar os 40 anos de sua atuação no departamento. Ele ressaltou que a homenagem se estende a todas as pessoas envolvidas na trajetória. Gastão, coorganizador do livro “Nas entranhas da atenção primária à saúde”, traçou a história do DSC desde seu início com a equipe de medicina comunitária coordenada por Sérgio Arouca até as dificuldades enfrentadas durante a ditadura militar.
O departamento, que iniciou com oito professores, hoje conta com 30, e o perfil dos estudantes evoluiu significativamente, com a implementação das cotas e o aumento no número de residentes, passando de cinco para 80.
Reconhecimento do Ministro da Saúde
O Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ex-aluno de Gastão Wagner na graduação e pós-doutorado na Unicamp, enfatizou a conexão indissociável entre o DSC e a criação do SUS. “Não teríamos construído o SUS sem o Departamento de Saúde Coletiva”, declarou. Padilha relembrou sua experiência como estudante, vivenciando a transformação da saúde pública de Campinas sob a gestão de Gastão como secretário municipal, e sua própria jornada como Ministro da Saúde do governo federal.

Ele concluiu sua participação apresentando o programa “Agora Tem Especialistas”, uma iniciativa do Ministério da Saúde focada em reduzir o tempo de espera para atendimentos e cirurgias especializadas no SUS, reiterando seu compromisso contínuo com a busca por uma saúde pública cada vez mais eficaz.
Pioneirismo e Desafios Futuros
Fundado em março de 1965 pelo médico Miguel Ignácio Tobar Acosta, o DSC inovou ao reunir uma equipe multidisciplinar. Inicialmente influenciado pela medicina preventiva norte-americana, o departamento passou por reformulações nos anos 1970, incorporando a medicina social e a epidemiologia, com um trabalho comunitário pioneiro no Jardim das Oliveiras, em Campinas.

Projetos como o Centro de Saúde-Escola de Paulínia anteciparam um modelo abrangente de rede pública local, que incluía programas médico-assistenciais em diversas áreas. Após a interrupção pela ditadura militar entre 1975 e 1976, o DSC foi reconstruído e expandiu suas áreas disciplinares, culminando na criação de programas de mestrado e doutorado em Saúde Coletiva nos anos 1990.
Gastão Wagner ressalta, no entanto, que o futuro é incerto, e preservar o legado da medicina comunitária e do SUS é um desafio para as novas gerações, que devem proteger essas conquistas essenciais para o Brasil.