Às vésperas do Enem, discursos opostos de Tarcísio e Lula evidenciam dois projetos de país: enquanto o governador desvaloriza o diploma, o presidente reforça a educação pública como motor de transformação e justiça social.
Por Radar Democrático
Às vésperas do segundo dia do Enem de 2025, duas falas sobre educação ganham destaque nacional e escancaram projetos radicalmente distintos para o futuro do país. Enquanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), escolheu minimizar o papel do ensino superior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem reforçando a centralidade da educação pública como instrumento de transformação social.
Tarcísio: a desvalorização do diploma em plena semana do Enem
Às vésperas da prova que mobiliza milhões de jovens em busca de uma vaga na universidade, Tarcísio declarou que “o diploma cada vez tem menos relevância” e que o mercado hoje estaria mais interessado em “habilidades” do que na formação acadêmica. Para o governador, dominar o português, comunicar-se bem e falar outros idiomas seriam competências mais importantes do que a trajetória educacional formal de cada estudante.
A fala ecoa uma visão que desloca para o indivíduo a responsabilidade por sua inserção no mercado de trabalho, enquanto o Estado se distancia da obrigação de ampliar o acesso a universidades, institutos, pesquisa e formação técnica de qualidade. Em um país onde apenas cerca de um quarto da população adulta possui diploma de ensino superior — e onde esse diploma ainda garante, em média, ganhos salariais 148% maiores — a mensagem ressoa menos como incentivo e mais como descompromisso.
Lula em abril de 2025: educação como reparação histórica
Em abril de 2025, Lula esteve em Campos dos Goytacazes para inaugurar novos campi da UFF, reafirmando a aposta do governo na expansão da educação pública. Foi nesse contexto que o presidente fez uma crítica dura e direta à elite brasileira:
“A elite brasileira deveria se olhar no espelho e ter vergonha, porque precisou um torneiro mecânico, sem diploma universitário, governar este país para ser o presidente que mais fez universidades e institutos federais.”
Ao citar a própria trajetória e relembrar que o Brasil só criou sua primeira universidade em 1920 — “420 anos depois da chegada dos portugueses”, como enfatizou — Lula situou a educação como peça-chave para reparar uma desigualdade histórica produzida por uma elite que jamais quis democratizar o ensino.
Em vez de relativizar o diploma, Lula chamou atenção para o que ele representa: mobilidade social, democratização do conhecimento, capacidade científica e desenvolvimento nacional.
Dois projetos para o futuro
A diferença entre as duas abordagens é cristalina:
Tarcísio enfraquece a centralidade da formação superior, sugerindo que o Estado pode se afastar desse compromisso.
Lula reforça o papel da educação pública como fundamento de um país mais justo, reafirmando investimentos, expansão de universidades e políticas de inclusão, como a Rede Nacional de Cursinhos Populares.
No momento em que o Brasil tenta reconstruir sua capacidade científica, reverter desigualdades e ampliar oportunidades para a juventude, comparar as falas não é apenas exercício retórico. É reconhecer que a escolha entre desvalorizar o diploma ou fortalecer a universidade — entre reduzir expectativas ou expandir direitos — define o país que teremos nas próximas décadas.
Entendeu a diferença?
Radar Democrático é um portal de notícias, desde um viés democrático e progressista, sobre o estado de São Paulo.



