quarta-feira, 16/07/2025
Notícias que São Paulo precisa
Mobilização

Trabalhadores da saúde do estado de SP aprovam greve a partir de 16 de julho

Categoria pede aumento real de 2% nos salários, elevação do vale-refeição que é de R$ 12 e o fim das privatizações no setor
Trabalhadores(as) da Saúde Estadual aprovam paralisação. Foto: Luiz Carvalho/SindSaúde-SP
Trabalhadores(as) estaduais da saúde aaprovam paralisação. Foto: Luiz Carvalho/SindSaúde-SP

Em assembleia geral realizada na última sexta-feira (27/6), em frente à Secretaria Estadual da Saúde, trabalhadores e trabalhadoras da saúde aprovaram a deflagração de uma greve a partir do dia 16 de julho. A paralisação, convocada pelo SindSaúde-SP, poderá se tornar por tempo indeterminado, caso o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) siga ignorando a pauta de reivindicações da categoria.

Com mais de 50 mil profissionais representados em todo o estado – entre médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos de enfermagem, motoristas, administrativos e outros – a mobilização representa um grito coletivo contra o sucateamento e a privatização acelerada do Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo.

“Nenhuma resposta desde fevereiro”

Segundo o presidente do SindSaúde-SP, Gervásio Foganholi, a pauta salarial foi protocolada junto ao governo estadual ainda em fevereiro, sem qualquer retorno até o momento. “Vamos cobrar uma resposta do governo, que recebeu a pauta em fevereiro e, até agora, não apresentou nenhuma contraproposta. A partir dessa reunião, será definido o rumo da nossa greve, que poderá seguir por tempo indeterminado”, afirmou.

Entre as reivindicações estão: reposição da inflação (INPC), 2% de aumento real dos salários, a elevação do auxílio-alimentação – hoje fixado em apenas R$ 12 por dia útil – e o fim das terceirizações e privatizações que, segundo o sindicato, corroem os direitos dos servidores e comprometem o atendimento à população.

“O governador Tarcísio de Freitas não atendeu às reivindicações da categoria. É inadmissível que o estado mais rico do país deixe alguns trabalhadores da saúde sem nenhum reajuste, pague apenas R$ 12 de vale-alimentação por dia útil e siga privatizando todo o sistema público de saúde”, criticou Foganholi, diante de centenas de manifestantes.

O desmonte em curso da saúde pública paulista

A gestão Tarcísio tem intensificado o processo de desmonte da saúde pública no estado, por meio de uma política de terceirizações e entrega de unidades públicas à gestão privada. Um dos casos mais alarmantes tem sido o processo de transferência da administração do Hospital Estadual de Sumaré (HES) – gerido pela Unicamp – para uma organização social. A medida vem provocando protestos da comunidade universitária e de profissionais da saúde, que denunciam a perda de qualidade no atendimento, a redução de vínculos públicos e a precarização dos serviços.

A gestão do HES pela Unicamp tem se destacado como um exemplo de excelência no atendimento à população usuária do SUS. Com base em princípios acadêmicos, científicos e humanitários, o hospital alia qualidade assistencial, formação de profissionais altamente capacitados e compromisso com a saúde pública. Ao longo dos anos, o HES se consolidou como uma referência regional graças à sua gestão pública eficiente, que preza pela universalidade do atendimento, pela valorização dos trabalhadores da saúde e pela integração com o sistema de ensino e pesquisa da universidade.

A eventual transferência da gestão do HES para uma entidade privada representa um risco grave de desassistência para milhares de pacientes que dependem exclusivamente do SUS. A lógica privada, muitas vezes orientada por metas financeiras e redução de custos, pode comprometer a qualidade do cuidado, restringir o acesso aos serviços e enfraquecer a formação de profissionais de saúde comprometidos com o serviço público. Junto a isso, há o risco de descontinuidade de tratamentos e de desestruturação das equipes multiprofissionais, o que impactaria diretamente a população mais vulnerável da região.

Além disso, o governo estadual promoveu a transferência da gestão de unidades básicas de saúde, AMEs e hospitais para OSs (organizações sociais), sem diálogo com os servidores nem garantia de continuidade de políticas públicas. Entidades denunciam a falta de concursos públicos, o congelamento de salários, o fechamento de leitos e a substituição de profissionais efetivos por contratos temporários e mal remunerados.

Greve e comando estadual

A assembleia dos trabalhadores da Saúde também definiu a formação de um comando estadual de greve, com representantes de diversas unidades – inclusive das que já foram privatizadas, mas ainda contam com servidores públicos em atividade. Até o dia 16, o sindicato pretende protocolar os ofícios legais e aguarda uma resposta da Casa Civil, com reunião agendada com o secretário Arthur Lima no dia 14.

A depender do resultado, a paralisação poderá se transformar numa greve por tempo indeterminado. A decisão está nas mãos do governo, reforça o sindicato.

Mobilização na Paulista

Após a assembleia, os trabalhadores marcharam pela Avenida Dr. Arnaldo em direção à Avenida Paulista, onde participaram do Ato Unificado Contra as Privatizações. O protesto reuniu diversas centrais sindicais – CUT, CTB, Intersindical, Força Sindical – e movimentos sociais como a Frente Brasil Popular e o Povo Sem Medo.

“Esse ato unificado será o pontapé inicial de uma série de ações do conjunto de sindicatos do funcionalismo cutista, que integram uma campanha contra as privatizações e terceirizações em curso no estado de São Paulo, promovidas pelo governo Tarcísio”, declarou Foganholi durante o protesto, reforçando a importância de ampliar a pressão sobre o governo.

A greve do SindSaúde-SP já conta com apoio da CUT-SP, do Sindicato dos Metroviários, da APEOESP, do Sindicato dos Médicos de São Paulo, entre outras entidades que veem na mobilização dos profissionais da saúde um símbolo de resistência frente ao desmonte dos serviços públicos.

Um modelo que adoece

A política de desvalorização da saúde pública em São Paulo tem sido denunciada pelas entidades da área há anos. A falta de concursos, a precarização dos contratos, a entrega de hospitais à gestão privada e o congelamento de salários compõem, segundo o SindSaúde, um projeto deliberado de enfraquecimento do SUS e de sua substituição por modelos de gestão com viés empresarial.

“A falta de compromisso do governador com a saúde pública atingiu um patamar insustentável. Somente a mobilização poderá barrar esse modelo de venda do patrimônio público e de destruição do Sistema Único de Saúde”, alertou Foganholi.

Para os trabalhadores e trabalhadoras da saúde, o recado é claro: quem cuida da população exige respeito, dignidade e valorização.

Outro lado

O Radar Democrático procurou a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde e até o momento não recebeu resposta sobre as reivindicações da categoria. Este texto será atualizado com a resposta quando ela chegar.

Radar Democrático
Radar Democráticohttp://radardemocratico.com.br
Radar Democrático é um portal de notícias focado no estado de São Paulo. Valorizamos a democracia, a pluralidade de ideia, a diversidade étnica e cultural, e os direitos humanos. Acreditamos na mobilização e organização da população como fundamentais para as transformações sociais urgentes não só em nosso estado, mas no país.

FAÇA UM COMENTÁRIO

Por favor, escreva seu comentário!
Por favor, escreva seu nome

Hot this week

Conheça os direitos do consumidor na compra de veículos usados com defeitos ocultos

Imagine uma cena, hipotética: você adquire um carro usado...

Imigrantes espanhóis em São Paulo: cotidiano de lutas e desafios no início do século 20

Por Paulo SalvadorA imigração italiana domina a história da...

PT pede que STF investigue Tarcísio por obstrução da justiça e possível facilitação de fuga de Bolsonaro

O deputado federal Lindbergh Farias (RJ), líder do PT...

Charge do Bira: o esgotão do Tarcísio

Charge do Bira - O esgotão do Tarcísio.

Taxação de Trump prejudica as regiões metropolitanas em SP: conheça as mais afetadas

Por Luiz Claudio MarcolinoA ameaça sobre a soberania brasileira...

Topics

Conheça os direitos do consumidor na compra de veículos usados com defeitos ocultos

Imagine uma cena, hipotética: você adquire um carro usado...

Imigrantes espanhóis em São Paulo: cotidiano de lutas e desafios no início do século 20

Por Paulo SalvadorA imigração italiana domina a história da...

Charge do Bira: o esgotão do Tarcísio

Charge do Bira - O esgotão do Tarcísio.

Taxação de Trump prejudica as regiões metropolitanas em SP: conheça as mais afetadas

Por Luiz Claudio MarcolinoA ameaça sobre a soberania brasileira...

Haddad sobre Tarcísio: ou é “candidato a presidente ou é candidato a vassalo”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou duramente a...

Cooperação China-Unicamp: ciência, tecnologia e solidariedade

A parceria da Unicamp com instituições chinesas vem se...

Única candidata, Unicamp deve manter gestão do Hospital Estadual de Sumaré

Por Rogério Bezerra e Wanderley GarciaA Fundação de Desenvolvimento...
spot_img

Related Articles