
O deputado estadual por São Paulo, Lucas Bove (PL), foi indiciado pela Polícia Civil por ameaça e violência psicológica contra sua ex-esposa, a influenciadora Cíntia Chagas. A notícia, divulgada pelo G1, baseia-se em um relatório de 60 páginas que detalha as provas coletadas.
Segundo a investigação, Bove teria submetido Chagas a ameaças, chantagens e tentativas de controlar sua carreira profissional, além de ter prometido “acabar com a carreira dela” caso não aceitasse contratos com cláusulas consideradas abusivas e ameaçado expor intimidades ou editar vídeos para prejudicar sua imagem na internet.
Por conta das acusações, Bove foi denunciado no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo. O Conselho, no entanto, decidiu pelo arquivamento. Depois, o próprio Bove pediu a cassação da deputada estadual Paula da Bancada Feminista (PSOL) que votou a favor da abertura de processo contra o parlamentar.
Entenda a denúncia contra Lucas Bove
Cíntia Chagas, que possui mais de 7,6 milhões de seguidores nas redes sociais, registrou queixa contra o deputado no ano passado, relatando uma série de abusos físicos e psicológicos durante o relacionamento de mais de dois anos. Testemunhas ouvidas pela polícia, incluindo a assessora da influenciadora, corroboraram os episódios de controle e menosprezo.
A investigação também revelou registros de ligações de números da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e mensagens de advogados do deputado pressionando Cíntia a aceitar os termos do divórcio.
A delegada Dannyella Gomes Pinheiro concluiu que “Restou plenamente provado que Lucas Diez Bove praticou os crimes previstos nos artigos 147-A e 147-B do Código Penal, no âmbito da Lei Maria da Penha”, referindo-se aos crimes de perseguição (stalking) e violência psicológica.
A delegada destacou que Bove manteve contatos insistentes e usou terceiros para se aproximar da ex-esposa mesmo após a separação, caracterizando perseguição. Contudo, o inquérito não indiciou Bove por lesão corporal, pois não foi possível comprovar se as marcas roxas apresentadas pela vítima decorriam de agressões físicas, embora o relatório inclua as ameaças no contexto da violência psicológica.
Paralelamente, o deputado Lucas Bove havia solicitado uma medida cautelar na Justiça para proibir Cíntia Chagas de fazer publicações sobre o processo nas redes sociais, alegando que ela estaria divulgando informações sigilosas.
Inicialmente concedida, essa medida foi alvo de um pedido de revogação por parte do Ministério Público (MP) de São Paulo. O promotor Fernando Cesar Gomes de Souza argumentou que não há inquérito para investigar a suposta violação de sigilo por parte da influenciadora, tornando a restrição inviável. Manter a proibição, segundo o MP, configuraria “violência institucional” contra uma possível vítima de violência doméstica e cercearia indevidamente sua liberdade de expressão.
A medida cautelar contra Cíntia Chagas ainda aguarda decisão judicial sobre o pedido de revogação do MP. Enquanto isso, a influenciadora expressou à TV Globo a esperança de que sua denúncia sirva de exemplo para outras mulheres, afirmando: “um praticante recorrente de violência contra mulheres jamais poderia legislar como deputado. Espero, então, que essa nova vitória judicial sirva como ferramenta basilar para o fim do corporativismo masculino na Alesp”.
A advogada de Cíntia, Gabriela Manssur, considerou o indiciamento “uma vitória importante”, mas ressaltou a expectativa de que o Ministério Público também inclua a violência física na denúncia, por entender que está comprovada nos autos.
A posição de Lucas Bove
Em contrapartida, a defesa do deputado Lucas Bove afirmou que Cíntia Chagas “divulga, indevidamente e em completo desrespeito à ordem judicial imposta em seu desfavor, informações sigilosas” e “distorce a verdade”. Em nota, os advogados negaram qualquer agressão física ou ameaça, mencionando que a própria Justiça, no passado, teria reconhecido que Cíntia “faltou com a verdade em acusações similares contra outra pessoa com quem ela se relacionou, a condenando ao pagamento de indenização por isso”.
Em um vídeo publicado em suas redes sociais em 11 de outubro de 2024, Bove disse não poder comentar o caso devido a uma decisão judicial, mas assegurou que “a verdade será restabelecida”, e na legenda, negou ter cometido agressões. Ele também afirmou que os fatos mencionados no inquérito se confundem com outros em que ele é a vítima, oriundos da separação litigiosa, e confia na Justiça para comprovar sua inocência.