Em termos de aumento, São Paulo registrou o maior acréscimo no número total de vítimas negras, passando de 510 para 812 de 2023 para 2024.
Por Radar Democrático
A violência letal no Brasil possui uma cor bem definida: a preta e parda. Essa constatação, reiterada por diversos estudos, como o Atlas da Violência e pesquisas específicas sobre letalidade policial, revela o profundo racismo estrutural que torna a população negra muito mais vulnerável a ser vítima de assassinatos.
No Estado de São Paulo, apesar de ser historicamente conhecido pela queda geral nas taxas de homicídio, essa disparidade racial na violência se mantém e se manifesta de forma brutal, especialmente nas ações policiais.
Embora os dados sobre homicídios de maneira geral em São Paulo mostrem uma tendência de queda em alguns períodos, quando se faz o recorte racial, a diferença na vitimização é chocante. Pessoas negras (pretas e pardas) são, de forma desproporcional, a maioria das vítimas de mortes violentas.
Letalidade Policial
A discrepância é alarmante no que diz respeito às mortes decorrentes de intervenção policial. Em 2022, embora 40,26% da população paulista fosse negra, 63,9% dos mortos por agentes de segurança eram pretos ou pardos, segundo o boletim “Pele Alvo: a bala não erra o negro”.
De 2023 para 2024, em termos de aumento, São Paulo registrou o maior acréscimo no número total de vítimas negras, passando de 510 para 812.
Levantamentos recentes (como os de 2024, analisando 8 meses de dados) apontam que cerca de dois a cada três mortos pela polícia em serviço foram identificados como negros (pretos ou pardos). Em determinado período analisado, 64% das vítimas eram negras, enquanto brancos representavam 31% do total.
A análise da letalidade policial em São Paulo aponta para um fenômeno de racismo institucional, no qual o sistema de segurança pública, mesmo que não intencionalmente em nível individual, opera identificando o jovem negro como um alvo preferencial, o que leva a uma política violenta e fatal contra esse grupo.
Mulheres negras
O recorte de gênero evidencia uma dupla desvantagem. Nacionalmente, o Atlas da Violência tem constatado uma tendência preocupante. Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras tem apresentado redução (queda de 11,7% em uma década, conforme dados de 2020), a taxa de vítimas negras subiu no mesmo período (12,4%).
Em 2021, as mulheres negras representaram 67,4% do total de mulheres assassinadas no Brasil, com uma taxa de vitimização 79% superior à das mulheres não negras. Isso levanta o questionamento sobre quais políticas de segurança e proteção (como as leis de combate ao feminicídio) protegem as mulheres não negras, mas falham em proteger as negras.
Juventude
Nacionalmente, e também em São Paulo, os jovens (principalmente na faixa etária entre 18 e 29 anos, mas também crianças e adolescentes) representam metade das vítimas de homicídio no país.
Mais de 60% dos mortos por intervenção policial no Estado de São Paulo são pessoas pretas ou pardas. Indivíduos entre 18 e 29 anos constituem a maioria das vítimas de mortes por intervenção policial (aproximadamente 54% do total em 2022), segundo o boletim “Pele Alvo”, da Rede de Observatórios da Segurança.
Esses números da violência não podem ser compreendidos isoladamente; eles são a tradução mais explícita de um legado histórico de discriminação e da persistente distância social que o racismo impõe, estigmatizando e expondo a vida negra a riscos muito maiores.
Raiz histórica
A maior prevalência de homicídios entre a população negra, em comparação com o restante da população, é um reflexo direto de um país profundamente desigual e racista. A vulnerabilidade à violência letal está intrinsecamente ligada a outros indicadores sociais.
A população preta e parda enfrenta maiores dificuldades de acesso a bens duráveis, maior índice de desemprego e informalidade, além de insegurança alimentar — fatores que se somam e se retroalimentam com a violência.
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