Aquele cafezinho que tomamos todos os dias, ou o dia todo. O arroz fresquinho no almoço e no jantar. O feijão, com toucinho. Um bolo de milho, com goiabada. Banana Nanica, Prata, Ouro, da Terra. Laranja Pera, Bahia, Lima. A cerveja, sempre gelada.

Ficou com fome e com água na boca? Tenho certeza que sim. Mas, só é possível matar essa sua fome porque tem gente, diariamente, plantando e colhendo os alimentos que chegam na nossa mesa. Sem o trabalho diário dessas pessoas, não haveria sequer churrasco aos finais de semana com a família e amigos.

Essas pessoas são agricultores e agricultoras, familiares, que contam com o trabalho de pesquisadores e pesquisadoras, do campo, que dedicam suas vidas a fazer com que tenhamos comida todos os dias em nossos lares. Um pé de café é cultivado e seus frutos chegam como o cafezinho em nossa mesa porque agricultores e pesquisadores trabalham juntos.

Existem 15 institutos públicos de pesquisa em São Paulo, ligados diretamente às secretarias estaduais de Agricultura, Meio Ambiente e Saúde. Dentre essas 15 unidades, está o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), com mais de 130 anos de produção de pesquisa sobre o nosso cafezinho diário. Também está o Instituto Butantã, que foi fundamental na produção de vacinas contra a Covid-19. O Adolfo Lutz, referência para a saúde da população paulista.

Sem a dedicação das pessoas que trabalham nesses institutos de pesquisa, a “broca-do-café” já teria acabado com as plantações de café do Brasil. A “lagarta-da-panícula” teria comido todos os arrozais. A “lagarta elasmo” teria levado todo o feijão. A aftosa, acabado com o gado. Os pulgões nos deixariam sem cerveja. Vírus, bactérias já teriam dizimado os agricultores e moradores das cidades.

Mas, ao que tudo indica, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, está empenhado em fazer com que não tenhamos mais alimentos e outros produtos em nossos lares. Afinal, o Governador está dedicando seu mandato para impedir a realização de pesquisas essenciais à produção de alimentos, de vacinas e de outros bens para a população.

Segundo dados da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), 80% dos cargos dos institutos estaduais de pesquisa estão vagos atualmente. São mais de 7.900 cargos vagos.

Esses 15 institutos de pesquisa possuem, juntos, apenas 2.200 trabalhadores. Cada um desses institutos possui, em média, 5 unidades de pesquisa localizadas em cidades do Estado. Cada uma dessas unidades possui, também em média, 29 trabalhadores, entre administrativos e pesquisadores. Ou seja, um número muito pequeno de trabalhadores para dar conta de todas as pesquisas que são fundamentais para nossa existência cotidiana.

Esse pequeno número de trabalhadores é bastante preocupante, pois indica que está havendo uma sobrecarga de trabalho sobre cada trabalhador dessas unidades de pesquisa. Um número pequeno de pessoas para desempenhar uma grande quantidade de atividades laborais diárias leva ao adoecimento mental e físico de trabalhadores e trabalhadoras. A sobrecarga de trabalho leva ao aumento de transtornos de ansiedade, Burnout, depressão, lesões por esforços repetitivos, entre tantas outras doenças provocadas pelo trabalho.

Agrava o sucateamento das instituições de pesquisa o fato de que o salário dos trabalhadores encolheu 70% de 2013 a 2023. Estudo feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a pedido da APqC mostrou que esses trabalhadores tiveram apenas 20% de aumento nos últimos 10 anos. Nesse mesmo período, a inflação acumulada foi de 77%.

Sem dinheiro não há pesquisas para a produção de alimentos e outros produtos. E o Governador Tarcísio sabe bem disso, pois, para sucatear as instituições de pesquisa, está acabando com os recursos destinados a elas. Apesar de o Orçamento do Estado de São Paulo prever um crescimento de 14% no ano de 2025, os recursos para a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA-SP), em que estão vinculados o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto de Zootecnia (IZ), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), entre outros, sofreu uma redução de mais de 18%.

O sucateamento das instituições de pesquisa tem um objetivo: possibilitar a venda das áreas e propriedades que pertencem a essas instituições.

O IAC, por exemplo, que possui uma fazenda que é utilizada para experimentos científicos com café e outras plantas, está localizado numa região da cidade de Campinas super valorizada pelo mercado imobiliário. No Plano Diretor do Município, parte da fazenda está destinada a receber empreendimentos econômicos de, no mínimo, 500 metros quadrados. Ou seja, o Governador quer ajudar no loteamento da fazenda do IAC.

Além do loteamento da fazenda do IAC, o Governo Tarcísio quer vender outros imóveis de 24 unidades de pesquisa em todo o estado, como noticiado pelo Radar Democrático em 19 de fevereiro de 20025.

Não contratar pesquisadores; não recompor os salários dos trabalhadores de acordo com a inflação; aumentar a sobrecarga de trabalho sobre os trabalhadores fazendo com que adoeçam; retirar recursos das instituições de pesquisa; isso tudo leva ao sucateamento dessas instituições de pesquisa.

Esse sucateamento tem um propósito: fazer com que a população não impeça ou se contraponha à venda das áreas e propriedades pertencentes às instituições públicas de pesquisa do Estado.

Áreas e propriedades pertencentes a essas instituições estão com menos atividades ou, em muitos casos, estão sem uso por causa do processo de sucateamento promovido pelo Governador Tarcísio. A partir disso, o Governador tem dito que as instituições públicas de pesquisa não estão produzindo. Ou seja: Tarcísio, primeiro, transforma em sucata as instituições públicas de pesquisa do Estado de São Paulo e, depois, vende as fazendas e as propriedades pertencentes a elas.

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* Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Radar Democrático.

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